InícioColunasQuantos foram os monges João Maria?

Quantos foram os monges João Maria?

Últimas notícias

Operação contra abuso sexual em Canoinhas e Papanduva é considerada a maior da região

A operaçãoRespectus, deflagrada nesta quarta-feira (24) em Papanduva e...

Após denúncia polícia militar apreende arma sem registro em Três Barras

Na quarta-feira, 24, por volta das 16h, policiais militares...

A historiografia do Contestado remete à presença de três personagens que contribuíram de forma incisiva para a constituição da memória à São João Maria. São eles: João Maria de Agostini (Giovanni Maria de Agostini), João Maria de Jesus (Anastás Marcaf) e José Maria (Miguel Lucena).

 

 

O primeiro João Maria, peregrino italiano, nascido no Piemonte em 1801, atuou como missionário religioso nos sertões brasileiros entre 1844 e 1852, tendo falecido na cidade de Mesilla, no Novo México (EUA), no ano de 1869.

 

 

O segundo, de origem grega/síria, peregrinou pela região do planalto catarinense entre 1893 a 1908, este segundo monge passou pelo interior dos municípios de Campos Novos, Lages, Curitibanos, Porto União, Rio Negro e Canoinhas.  Por volta de 1908 ou 1910, João Maria de Jesus não foi mais visto. Não há informações concretas que noticiam sua morte. Para a população sertaneja o monge havia apenas se recolhido no morro do Taió, onde até hoje vive “encantado” com mais de 200 anos.

 

 

O terceiro, José Maria, fez sua primeira aparição no território do Contestado em 1911, em Palmas. José Maria esteve presente no início da deflagração da Guerra do Contestado, morto em combate no Irani em 1912.

 

 

 

Figura 1: Da esquerda para a direita, foto atribuída a: João Maria de Agostini, João Maria de Jesus e José Maria.

Fonte: Autores desconhecidos, com adaptações.

 

 

 

A presença destes três personagens é amplamente reconhecida, no entanto, pesquisadores remetem a possibilidade da existência de mais sujeitos que representaram a figura do monge. A exemplo disto, tem-se a obra “O último Jagunço” de autoria de Euclides José Felippe (1995) que indica a presença de pelo menos cinco Joãos Marias na região.

 

 

Ademais, durante a Guerra do Contestado havia a interpretação dos conselhos de João Maria por crianças e adolescentes, como as visões de Teodora, Manoel e Maria Rosa. Após a morte de José Maria ocorreu um processo de “reelaboração mística”, quando as trajetórias de José Maria (mártir) e João Maria (santo) fundiram-se constituindo um tecido religioso e sociocultural que sustentou o movimento.

 

 

A referida reelaboração perpetuou-se mesmo após o término oficial da Guerra do Contestado (1912-1916), de modo que em levantamento de fontes primárias, assim como com base da tese de Graziele Eurich, foi possível identificar a existência de um sujeito interessante, o qual se chamava José Victorino do Espírito Santo, e intitulava-se monge enviado de João Maria.

 

 

A partir do entrecruzamento de fontes, na redação de meu trabalho dissertativo (ainda não defendido), levantou-se a hipótese de que José Victorino participou de pelo menos três movimentos pós-Contestado na condição de monge.

 

 

Embora a figura de João Maria tenha iniciado em um indivíduo em específico, transformou-se em algo inerente na tradição do sertanejo. E, apesar de não ser possível quantificar o número de indivíduos que assumiram para si o papel deste personagem histórico, é plausível supor que foram muito mais do que os três amplamente reconhecidos pela historiografia.

 

 

Évelyn Bueno, advogada, mestranda em Desenvolvimento Regional pela Universidade do Contestado – UnC.

 

 

Referências

 

EURICH, Grazieli. A fé que move os indígenas: o monge São João Maria e os “ecos” do Contestado na luta Kaingang pela terra no interior do Paraná. Tese (doutorado em história) Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), 197p. 2019.

 

FELIPPE, Euclides José. O último jagunço: folclore na História do Contestado. 1ª Ed. Universidade do Contestado, Curitibanos-SC, 1995.

 

KARSBURG, Alexandre. O Eremita das Américas: A odisseia de um peregrino italiano no século XIX. Santa Maria: Ed. UFSM, 2014.

 

KUNRATH, Gabriel Carvalho. Não tivemos outro jeito, ou morríamos ou nos defendíamos: uma análise acerca da Batalha do Irani (1912). Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, 2020.

Equipe Gazeta
Equipe Gazetahttps://gazetanortesc.com.br
Somos um jornal de notícias e classificados gratuitos. Estamos há 25 anos no mercado e nosso principal diferencial é o jornal digital.