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Psicologia ambiental: relações entre ambiente e Sociedade humana

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O ambiente físico-natural, considerando aspectos de sazonalidade, clima, temperatura, insolação, precipitações pluviométricas, umidade do ar e outras condições ambientais, podem ou interferem diretamente na qualidade de vida das pessoas. Como exemplo, locais onde as temperaturas são baixas (frio) ou altas (calor), áreas com ou eventuais riscos de inundações ou de pouca ou escassez de água, podem oferecer riscos ou influenciar negativamente na saúde humana ou na satisfação das pessoas que vivem em tais ambientes. Por outro lado, ambientes que apresentam condições mais equilibradas ou aprazíveis possibilitam que as pessoas possam viver melhor ou mais tranquilas em suas relações entre si e com o próprio ambiente.

A psicologia é uma ciência humana que possibilita estudar e analisar as influências ou relações do ambiente na vida das pessoas. Afinal, seres humanos, assim como as demais formas de vida, possuem intrínsecas relações com o ambiente natural.

Já a psicologia ambiental é um subcampo da psicologia que se aprofunda em estudar as relações recíprocas entre humanos e seu entorno. Além disso, examina como o ambiente físico natural influencia nos processos psicológicos e, inversamente, como as ações humanas impactam no ambiente.

Imaginemos um ambiente familiar aconchegante, um parque ou um espaço social agradável, como um restaurante ou outro local atrativo, saudável, confortável e aprazível. Esses lugares, mais do que espaços físicos, podem gerar ambientes de satisfação, evocar memórias, sentimentos, felicidade, emoções e até sensações de bem-estar e de pertencimento.

Essa conexão emocional, conhecida como vínculo ao lugar, é um pilar da psicologia ambiental, que influencia a identidade, o bem-estar e a relação com o mundo. Nesta direção, a afinidade inata com a natureza – a biofilia –, é um conceito fundamental na psicologia ambiental. Estudos demonstram que o contato com elementos naturais, como plantas, água e luz natural (solar), reduz o estresse, melhora a saúde mental e física, pode aumentar a produtividade nas atividades econômicas, bem como, gera sentimentos aprazíveis e, consequentemente, melhoram a qualidade de vida das pessoas. Parques, jardins, áreas verdes, águas e ambientes naturais podem se tornar espaços ou “refúgios” para o bem-estar humano e animal, e, portanto, constituem ambientes que evidenciam a importância e a influência da natureza na vida humana e na animal.

Edward O. Wilson (1984), autor do livro “A Ligação Humana com a Natureza”,  apontou que a biofilia se intensificou durante a evolução humana na savana africana, onde a vida era aberta e imprevisível, exigindo uma constante interação com o ambiente. O autor argumenta que a biofilia pode ser vista como uma adaptação evolutiva que ajudou o ser humano a sobreviver e a prosperar em ambientes naturais. Nossos ancestrais, que majoritariamente dependiam da natureza para sua alimentação, abrigo, segurança e sobrevivência, precisavam estar conectados ao mundo natural para identificar perigos e encontrar alimentos e parceiros.

Cada lugar possui características ambientais específicas, as quais podem influenciar em experiências e comportamentos humanos distintos. Determinado lugar pode ser percebido ou referenciado, dentre outros, pelo seu significado ambiental e por fatores como sua história, cultura e arquitetura. Lugares com senso de comunidade, por exemplo, tendem a promover o bem-estar social e a sensação de pertencimento.

De igual forma, o contato com a natureza pode evocar emoções positivas, como prazer, relaxamento, admiração e bem-estar. Além disso, a natureza pode estimular a criatividade, o aprendizado e até a resolução de problemas.

O contato humano com a natureza pode diminuir o nível de cortisol, o hormônio do estresse, e promover o relaxamento muscular e a redução da frequência cardíaca. A exposição à natureza pode aumentar a produção de células brancas do sangue, fortalecendo o sistema imunológico e combatendo doenças. Na mesma direção, estar junto a bens naturais (terra, água, fauna, flora, etc.) pode provocar o aumento dos níveis de serotonina, um neurotransmissor relacionado à felicidade, e reduzir os sintomas de depressão e ansiedade.

Por outro lado, o ruído excessivo, a poluição do ar e a superlotação são alguns dos fatores estressores ambientais que podem ter um impacto negativo na saúde humana, tanto mental quanto física.

A psicologia ambiental busca compreender e mitigar esses efeitos, promovendo a criação de ambientes saudáveis e propícios ao bem-estar humano. Igualmente, se dedica a compreender e promover comportamentos sustentáveis, com o objetivo de minimizar o impacto humano no meio ambiente. Neste sentido, mediante campanhas de conscientização, educação ambiental e design urbano sustentável, busca-se incentivar práticas como a economia de energia, a reciclagem, o uso de transporte público e várias outras ações sustentáveis ambientalmente.

Sigmund Freud (1856-1939), considerado o pai da psicanálise, em sua obra seminal “Civilization and Its discontents” (1930), tece uma análise profunda da relação complexa entre o indivíduo e a sociedade. Ao explorar as tensões inerentes à civilização, Freud reconhece a importância fundamental da natureza como fonte de bem-estar mental e físico.

Em contraste com a velocidade imposta pelo modo de produção capitalista em curso, Freud sugeriu a natureza como um refúgio para qualificar a psique humana. Ele reconhece o poder restaurador do contato com elementos naturais, como plantas, água e luz solar, os quais promovem relaxamento, diminuem o estresse e facilitam a reintegração com a própria natureza. Por estas e outras, a Psicologia Ambiental possibilita estudar, analisar e também conviver de modo mais harmonioso com os bens naturais.

Este artigo, além de ser um exercício intelectual, pretende ser uma motivação para que as pessoas interajam mais com os bens naturais, como uma das possibilidades de qualificar e atribuir mais sentido à vida.

 

Autores:

Liz Andréa Babireski Braz de Oliveira – Mestranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC). E-mail: [email protected]

Jairo Marchesan – Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) e do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental (PMPECSA) da Universidade do Contestado (UNC). E-mail: [email protected]

Referências

WILSON, Edward O. Biophilia: a ligação humana com a natureza. Tradução

Thais Reiss. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010.

 

CAPRA, Fritjof. The Tao of Physics: an exploration of the parallels

between modern physics and eastern thought. 3. ed. Boulder, Colorado, EUA: Shambhala Publications, 1975.

 

FREUD, Sigmund. Mal-estar na civilização. Tradução de Luiz Carlos

Borges. 1. ed. São Paulo: Editora Amorrortu, 2016. 224 p.

 

SILVA, A. C. (Coautora). Ecopsicologia: conceitos fundamentais. São

Paulo: Cortez, 2014.

 

TRAUSE, A. C. Psicologia ambiental: uma abordagem brasileira. São

Paulo: Cortez, 2005.

Equipe A Gazeta Tresbarrense
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