Não. O tema não é novo: nem o mito ou alegoria de Platão, tampouco a sua contextualização no mundo atual através da televisão. O assunto, porém, está sempre presente e se mostra atualíssimo, merecendo uma breve abordagem.
Independente de o leitor ter tido ou não a oportunidade de desfrutar da leitura de “A República”, de Platão (ficando aqui a como sugestão para os que ainda não tenham lido), o mito da caverna é de conhecimento comum. Seja em casa, na escola, no trabalho, na faculdade ou até mesmo na mesa de bar, a ideia de Platão sobre a realidade refletida em sombras na parede já foi ouvida, contada ou discutida por muitos. Difícil quem nunca tenha ao menos ouvido falar sobre. Pode ser que o leitor não tenha compreendido a questão direito, apenas ache que o tenha, dominou o assunto ou simplesmente não se importe com isso.
Seja como for, o diálogo presente em “A República” entre os personagens Sócrates e Glauco é algo primoroso que merece atenção. Através de sua alegoria, Platão demonstrou que os prisioneiros entendiam como realidade somente aquilo que podiam observar. O mundo eram as sombras refletidas na parede. Nada mais. Se a compreensão vai até o limite do conhecimento, no caso da caverna isso se refletia na interpretação da realidade. Daí que, não dispondo de condições de visualizar o exterior da caverna (os prisioneiros estavam agrilhoados), sequer se podia imaginar que existia algo para além das sombras na parede. Parece algo óbvio para quem vê a coisa toda de fora, mas poderíamos dizer o mesmo ao nos prostrarmos na condição de prisioneiros?
Cumpre destacar que a exposição original em seu contexto também buscava demonstrar o dualismo platônico. Não é sob tal perspectiva específica que se apresenta a questão aqui exposta, até mesmo pelo fato de o articulista que aqui escreve não concordar com tal visão de mundo. Mas a análise da questão feita de uma forma genérica e dentro do campo proposto de que o real não se situa naquilo que se acredita como o todo, pode ser muito bem aproveitada. Assim, as coisas não são como muitas vezes aparentam. Há sempre algo a mais. Um além. Uma parte situada no exterior que anseia ser descoberta. Cumpre a nós nos desvencilharmos das correntes. É difícil e doloroso (o brilho da luz exterior machuca os olhos, sendo mais cômodo ficar como está), e para os que se aventuram a sair da caverna, há o risco do escárnio dos ignorantes (o prisioneiro lúcido corre o risco de ser morto pelos que mantiveram os grilhões). No entanto, é um risco que sempre vale a pena.
E o que o mito da caverna tem a ver com a televisão?
A sacada está no ar, sendo facilmente perceptível a alusão feita. A televisão é a caverna na contemporaneidade. As imagens são as sombras refletidas. Os telespectadores que ficam grudados nos mais variados tipos de programas são os prisioneiros. Uma alegoria antiga que ainda se aplica no mundo atual.
Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica, foi um dos que expôs tal análise, narrando o mito da caverna através de uma história com o personagem Piteco. No final da narrativa em quadrinhos, um Piteco dos tempos atuais se depara com os mesmos prisioneiros da caverna com quem dialogou no início da história, ou seja, muitos anos se passaram no decorrer da curta trama. Porém, os colegas de Piteco desta vez estavam “presos” no sofá em frente à televisão, discutindo sobre aquela realidade aparente presente na tela.
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