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O benzimento como patrimônio cultural

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Escrito por: 

 

Évelyn Bueno. Mestranda em Desenvolvimento Regional.

João Carlos Vicente de Lima. Especialista em Direito Administrativo.

 

 

A vocação de benzedor é antiquíssima e, embora seja tradicionalmente realizada por mulheres, os homens também realizam benzeduras. Os benzedores também podem ser chamados de rezadores e rezadeiras, pois é inerente a todo processo magístico de benzimento, o acompanhamento de rezas. O domínio de tais saberes, podem ser considerados como bens de natureza cultural imaterial e que se transmite entre gerações.

 

 

Embora na atualidade a figura da benzedeira seja escassa, no passado a sua presença era urgente e necessária, especialmente em regiões afastadas das grandes capitais, onde não havia assistência médica disponível. Nesse contexto, a atuação de benzedeiras era indispensável na comunidade, que atuava auxiliando no restabelecimento da saúde da população, substituindo, portanto, a falta de médicos.

 

 

Cabe destacar que a apreensão e a transmissão do saber dos benzimentos, ocorria, frequentemente pela necessidade, mas também era transmitida com base na curiosidade e no dom. Em pesquisa realizada por Santos (2009), constatou-se por intermédio de entrevistas com mulheres que exerciam o ofício de benzedeiras, que o motivo que lhes guiaram para esse caminho foi “porque tinham filhos pequenos e precisavam aprender a rezar para curá-los de doenças”. Desse modo, procuravam um rezador experiente para aprender o ofício e auxiliar seus filhos e a comunidade local.

 

 

A prática do benzimento é entendida como algo que pode trazer a cura desde que haja uma predisposição à fé, tanto por parte das rezadeiras como da parte do cliente que procura por estes serviços. De modo que, “se a pessoa que vai se curar não tiver fé nas rezas, não vai se curar” (SANTOS, 2009).

 

 

Com a expansão da saúde pública, as rezadeiras tiveram seu campo de atuação reduzido, trabalhando especialmente para tratar olhado, quebrante, ventre virado, cobreiro, e a prática de coser carne e músculo rasgado.

 

 

Para executar esta prática, elas acionam conhecimentos do catolicismo popular, mas também a tradições de origem africana e indígena, a depender do ritual que aprendeu. As rezas, tem como objetivo restabelecer o equilíbrio material ou físico e espiritual das pessoas que buscam a sua ajuda.

 

 

Para compor esse ritual de cura, as rezadeiras podem utilizar vários elementos acessórios, dentre eles: ramos de ervas (tradicionalmente arruda e pinhão roxo), gestos em cruz feitos com a mão, agulha, linha e pano, além do conjunto de rezas. Estas podem ser executadas na presença do paciente ou à distância.

 

 

A figura da benzedeira geralmente está vinculada a mulher idosa, que tem poderes de cura. Cabe mencionar que o benzimento pode ser exercido por pessoas de qualquer idade, mas, a confiança do paciente cresce quando está diante de uma benzedeira idosa, nesse caso a sua idade representa a experiência e a sabedoria na prática da magia natural.

 

 

Além disso, a prática do benzimento também está relacionada com a gratuidade. Pois está respaldada na caridade e, portanto, não cobram por tais serviços.

 

 

Embora a medicina tenha expandido seus horizontes, ainda é muito comum a ocorrência de pacientes que buscam tanto o médico como as rezadeiras. Nesse contexto, elas agem de modo complementar às práticas exercidas pelos profissionais da medicina no tratamento de enfermidades e aflições corporais e psicológicas (SANTOS, 2009).

 

 

Em determinadas localidades do Brasil, existem médicos que inclusive recomendam a visita à benzedeira (embora sejam poucos). Conforme o exemplo citado por Adriano Camargo, onde relatou que […] “tempos atrás, um programa de televisão em rede nacional, mostrou um posto de saúde no estado da Bahia, em que após a consulta clínica, dependendo da necessidade, a criança ou o adulto era encaminhado para a rezadeira. Ela empunhada um maço de Pinhão-Roxo, e fazendo sinais da cruz no paciente, limpava seu campo astral de todo acúmulo energético que dificultava a cura da doença. O benzimento é basicamente isso. Usar o elemento natural e a reza como ferramentas de cura espiritual. Afinal, Deus está em todos os lugares quando evocados com Fé, Amor e Bom Senso” (CAMARGO, 2021).

 

 

Desse modo, podemos concluir que a prática do benzimento está relacionado com uma noção de tradição e faz parte do patrimônio de natureza imaterial, pois, a partir dos usos de rezas, conhecimentos, técnicas e tradições, há a manifestação cultural de uma atividade natural e magística.

 

 

E você, conhece algum (a) benzedeiro(a)?

 

 

Referências

SANTOS, Francimário Vito dos. O ofício das rezadeiras como patrimônio cultural: religiosidade e saberes de cura em Cruzeta na região do Seridó Potiguar. Revista CPC, São Paulo, n. 8, p. 6-35, 2009.

 

CAMARGO. Adriano. 10 ervas poderosas para benzimentos e suas funções. Ebook. 16 p. 2021.

Equipe Gazeta
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