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Nietzsche e a maldição contra o cristianismo

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Nietzsche (1844-1900) se notabilizou por desconstruir paradigmas e refutar verdades absolutas. O próprio pensador intitulou-se como o Martelo Dos Deuses, isto é, que busca desfazer crenças fideístas e apequenadoras. Um dos maiores alvos das críticas do filósofo alemão foi o cristianismo e a maneira como a doutrina é tomada por seus seguidores. É nesse sentido que Nietzsche publicou O Anticristo.

 

 

O título da obra sugere muito bem o conteúdo. Qual a finalidade do cristianismo? Por que a doutrina tem uma quantidade tão grande de seguidores? Quais os efeitos que perpetram na população? Por estes três eixos nos é possível fazer uma crítica inicial à argumentação do pensador.

 

 

Nietzsche não modera o vocabulário. Suas críticas são pesadas e cada aforismo é repleto de referências cuidadosamente posicionadas, tanto que trata o cristianismo como platonismo para a massa. O alemão cita Platão com asco, considerando-o uma das piores figuras na história do pensamento. Isso se dá por conta das obras do filósofo grego terem acentuado uma concepção dicotômica de mundo, onde haveria um porvir após a morte da carne, e no mundo metafísico a vida de fato seria plena. Trata a vida na Terra como uma provação, e essa concepção foi adotada pelo ideário cristão e ampliada pela igreja, além de ser mal plagiada pela chamada filosofia cristã que, com Agostinho, fez uma releitura do neoplatônico Plotino.

 

 

Para Nietzsche, todas as concepções morais (e principalmente a cristã) não passam de um instrumento, um cajado para guiar um rebanho. Todavia, elogia a Bíblia como um texto vigoroso, grandioso no sentido de formular uma ideologia completa; contudo também atribui o sucesso do livro por operar como um eficaz instrumento de manipulação de mentes deterioradas.

 

 

Na obra aqui referenciada alega-se, no aforismo 39, que existiu apenas um cristão, e este morreu na cruz. O trecho causa impacto não pelo contorno trágico de uma morte por crucificação, mas pela desvirtuação e transmutação em doutrina. A necessidade de um salvador ou de um rito de salvação representa também a inferioridade de indivíduos que não encontram suficiência para levar a vida por si mesmo. Mesmo aqueles que se dizem cristãos, muito dificilmente se pode dizer que ajam de acordo com o que se prega, pois há de se lembrar que o que verdadeiramente conta é aquilo que a pessoa é e não aquilo que parece ser. Hannah Arendt concorda com Nietzsche em sua análise sobre a esfera privada: as benfeitorias cristãs devem sempre ser realizadas de forma privativa, pois ao bem não carece publicidade. É o contrário o que observamos. Esbraveja-se sobre os feitos, colocam-se placas e alardes para que todos saibam quem o fez. Para Nietzsche, isso tem apenas um objetivo: argumentum ad populum para que os indivíduos pensem na religião como necessária para si; enquanto o que a igreja faz é meramente cuidar de si.

 

 

Por outra via, há quem busque a igreja por própria convicção. Neste caso, nada se pode dizer contra, pois a atitude provinda do próprio indivíduo segundo sua vontade livre e refletida é respeitável.

 

 

A maldição contra o cristianismo ocorre por conta da doutrina ser completamente dispensável, pois deixa de levar em conta o humano e passa a categorizar um modelo de conduta. Na concepção de Nietzsche, a supressão dos desejos, da criatividade, e o apregoamento de uma verdade válida para todos os indivíduos, caracteriza um exercício reativo que tende apenas a valorizar seres inferiores. A crítica seria inexistente se muitas igrejas e templos não atuassem como empresas que vendem a salvação em doses homeopáticas.

 

Acadêmico do Curso de Jornalismo da UEPG. Membro do Grupo de Estudos Mentes Inquietas.

Equipe Gazeta
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