Dorothy Mae Stang, nasceu no dia 07 de junho de 1931, em Dayton, Ohio, Estados Unidos. Em 1964, graduou-se na Universidade Notre Dame, de Namur, em Belmont (Califórnia).
Ingressou na vida religiosa em 1950, na Congregação de Notre Dame de Namur. Já no ano de 1956, emitiu seus votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência. De 1951 a 1966 foi professora em escolas da congregação. Sua missão era ajudar pessoas, e precisava agir em prol dos mais sofridos.
Em 1966, a irmã Dorothy Stang escolheu o Brasil para atuar a serviço da sua Congregação. O destino escolhido foi a cidade maranhense de Coroatá (norte brasileiro), onde atuava junto aos trabalhadores rurais da região do Xingu. Tinha cidadania brasileira, era conhecida no Brasil como uma das referências no ativismo ambiental na Amazônia.
Irmã Dorothy, como era conhecida, defendia a reforma agrária justa buscando soluções duradouras para os conflitos relacionados à posse e à exploração da terra na Região Amazônica.
O Estado do Pará é um dos Estados líderes em conflitos pela terra, devido, principalmente, pela atuação provocada por grileiros e fazendeiros. É, também, o Estado mais afetado pelo desmatamento na Região Amazônica. O desmatamento ocorre principalmente para criação de gado e atividades agrícolas.
Nunca esteve à frente de nenhuma ocupação de terra. Seu trabalho era com os assentados, em vista da regularização dos assentamentos e desenvolvimento de projetos de desenvolvimento sustentáveis.
Seus projetos consistiam em desenvolver a agricultura, preservando a natureza, evitando o desmatamento ou com o mínimo possível de intervenção nas florestas. As famílias não realizavam apenas atividades econômicas, mas educacionais, formando cidadãos e aproximando ou relacionando o conhecimento popular com o científico. Além disso, a perspectiva de formar para a cidadania, com base na vida coletiva, na fraternidade e na partilha.
Fundou a primeira Escola de formação de professores na Rodovia Transamazônica, que corta ao meio a pequena cidade de Anapu. Era a Escola denominada “Brasil Grande”.
Irmã Dorothy dizia: “Você tem que aprender a Bíblia em português, mas tem que aprender o Estatuto da Terra, porque nós trabalhamos com lavradores e eles têm que saber como defender seus direitos. Os direitos que a lei reconhece a gente tem que conhecer e ensinar o povo para ele saber como batalhar por si. A gente não vai ficar a vida inteira batalhando por eles, eles que têm que fazer”.
Com o desenvolvimento de suas atividades pastorais, a classe dominante ficou revoltada e enfurecida com sua atuação e os conflitos passaram a ser enfrentados até com armas, com o poder de polícia e do Estado. A Irmã Dorothy, que vivia com os camponeses no dia a dia, sentindo seus problemas, buscando soluções junto aos mesmos, sabia das pressões dominantes em curso. E a preocupação é que a adesão a esse modelo crescente na região levaria ao fim do sistema de exploração do grande agronegócio pecuário, quebrando a lógica de concentração de renda, riqueza e da propriedade.
Para fortalecer a base, Irmã Dorothy não ficou isolada. Vinculou-se à Comissão Pastoral da Terra (CPT), criada em 1975 durante encontro de Bispos e Padres da Amazônia convocado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A missão da pastoral é exatamente buscar solução para situações de trabalho escravo e expulsão de pequenos agricultores das terras onde trabalham.
O trabalho pastoral ficou conhecido e reconhecido nacional e internacionalmente, recebendo prêmios de muitas organizações de direitos humanos e defesa do meio ambiente. As ameaças à Irmã Dorothy foram aumentando ao longo dos anos, sempre denunciadas publicamente e aos órgãos de segurança. Mas a Irmã Dorothy respondeu que só aceitaria se a proteção fosse para todas as famílias assentadas, pois ela não era a única ameaçada; sua proposta não foi aceita.
Irmã Dorothy recebeu diversas ameaças de morte, sem deixar intimidar-se. Pouco antes de ser assassinada declarou: “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”.
A emboscada para a sua morte aconteceu no dia 12 de fevereiro de 2005, numa estrada do assentamento, quando ia visitar as famílias, com a Bíblia embaixo do braço, como era do seu costume. Foi abordada por dois homens de moto, um deles desceu de arma na mão, lhe apontou, e ela, segundo o assassino, abriu a Bíblia e leu um trecho que dizia: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão fartos”. A resposta do pistoleiro foi um tiro na cabeça e vários por todo o corpo.
Devido à repercussão nacional e também mundial, todos os envolvidos no crime foram condenados a penas que variam de 17 a 30 anos, mas a sensação na região ainda é de impunidade.
Irmã Dorothy foi sepultada no próprio assentamento, próximo ao local de onde foi assassinada, entre as árvores, como semente, para também germinar e dar frutos. Alguns moradores saíram com medo, mas a maioria permaneceu.
As irmãs Jane Dayer e Kátia Web Ester, da mesma Congregação de Dorothy, deram continuidade ao seu trabalho. Durante a Romaria da Floresta, em 2019, antes do fechamento provocado pela pandemia, irmã Jane disse: “A situação hoje é pior do que quando a Dorothy morreu”. De 2015 a 2019, somente em Anapu, 23 trabalhadores/as rurais foram mortos. E a reforma agrária popular sustentável parece cada dia mais distante.
Tanto Irmã Dorothy quanto Chico Mendes foram marcados para morrer por uma das causas populares: a luta da preservação da região amazônica.
A Irmã Dorothy Stang dizia: “Nós passamos poucas décadas aqui na terra. Use cada dia para levar alegria, não ganância, à nossa terra exaurida, tão cheia de angústia”.
Viviane Teresinha Bet – Mestranda no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: [email protected]
Dr. Jairo Marchesan. Docente dos Programas de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional e do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental da Universidade do Contestado (UnC).
E-mail: [email protected]