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Guerra do Contestado: Os Ataques a Canoinhas/SC

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A Guerra do Contestado (1912-1916) teve diferentes momentos e se expandiu de modo distinto entre os municípios que abrangeu. No caso de Canoinhas/SC, somente no segundo semestre de 1914, os acontecimentos passaram a ficar mais acentuados. Os rebeldes, sob o comando de Bonifácio José dos Santos (Bonifácio Papudo), iniciaram uma série de ataques que duraria de julho a dezembro daquele ano.

 

 

O primeiro ataque à vila ocorreu na noite do dia 14 para 15 de julho de 1914. Os rebeldes estavam comandados da seguinte maneira: ao norte, por Bonifácio Papudo e Ignácio de Lima; ao sul, por Tobias Lourenço de Souza e Antônio Tavares Júnior; a oeste, por Joaquim Gonçalves de Lima. O ocorrido motivou a debandada de várias autoridades municipais, incluindo o juiz de direito, o promotor público e o superintendente (prefeito). Além das autoridades, muitos moradores fugiram da vila.

 

 

Na noite do dia 17 de julho e manhã do dia 18, houve novo ataque. Na noite de 19, novamente a vila foi alvo dos rebeldes. Do alto da igreja foram feitos alguns disparos contra o Exército. Também foi atacada a trincheira da Água Verde, guarnecida pela Polícia. No dia 15 de agosto, outra vez as trincheiras que protegiam a vila foram atacadas.

 

 

Durante o mês de novembro, o contingente militar sediado em Canoinhas estava dividido. Parte dele mantinha-se na vila, o restante havia marchado até a localidade de Salseiro, onde tomou um reduto rebelde ali existente. No dia 8 de novembro, durante a madrugada, houve um intenso ataque dos rebeldes tanto na vila quanto no Salseiro. Neste, em virtude dos ataques, foi morta a sentinela das forças além de mais quatro militares feridos. A 9 de novembro, de novo ocorreu ataque. Os dois ataques motivaram, no dia 10 do mesmo mês, o regresso da tropa que se encontrava no Salseiro para a vila de Canoinhas, que continuou sendo atacada pelo grupo de Bonifácio Papudo.

 

 

Nesse período, Canoinhas, apesar de contar com aproximadamente 2.000 defensores, foi hostilizada quase todas as noites. No dia 16 de novembro, após as comemorações da Proclamação da República, o tenente-coronel Onofre, comandante do efetivo militar sediado em Canoinhas, emanou ordem para que parte de sua força marchasse em direção aos acampamentos rebeldes.

 

Quando a tropa expedicionária se distanciava da vila em aproximadamente dois quilômetros e meio, nas proximidades do rio Água Verde, houve novo combate em que o Exército amargou mais uma derrota, resultando 4 mortos e 18 feridos. Neste combate, faleceu um sargento, cujo corpo foi encontrado empalado, tempos depois, às margens do caminho. Em virtude do número de mortes sofrida, a Coluna Norte (que era a sediada em Canoinhas) passou a ser apelidada de “Coluna da Morte”.

 

 

Pouco tempo após o episódio do Água Verde, novo tiroteio noturno foi travado. Dessa vez, varando a madrugada. No dia 20 de novembro, o ataque à vila foi tão intenso, que o Exército necessitou utilizar canhões para repelir a investida rebelde. Somente ao final de novembro é que os ataques começaram a diminuir. No dia 23 de dezembro, houve o último e forte ataque. Os rebeldes tiveram seis mortos, ficando feridos os chefes Ignácio de Lima e Bonifácio Papudo, o primeiro gravemente.

 

 

Os ataques à vila de Canoinhas foram um relevante episódio da Guerra do Contestado. Fizeram parte de um contexto em que a guerra havia chegado à sua máxima expansão territorial e que os rebeldes passaram a utilizar uma estratégia ofensiva, atacando diversas localidades. Além de forçar grande parte de população local a debandar, os acontecimentos geraram grande pânico a cidades vizinhas. Até mesmo Curitiba e Ponta Grossa passaram a “pressentir aproximações rebeldes”. Dos eventos, restaram importantes documentos e fotografias, a exemplo do croqui com as trincheiras existentes em Canoinhas e da foto de rendição de Bonifácio Papudo.

Foto 1. Trincheira do 16º Batalhão de Infantaria nas cabeceiras da ponte do rio Canoinhas (1914-15), onde se instalaram cerca de 3.000 homens do Exército Brasileiro. (Fonte: Contestado, 1987, editora Index).
Foto 1. Trincheira do 16º Batalhão de Infantaria nas cabeceiras da ponte do rio Canoinhas (1914-15), onde se instalaram cerca de 3.000 homens do Exército Brasileiro. (Fonte: Contestado, 1987, editora Index).
Foto 3. Bonifácio Papudo conversa com o tenente Castelo Branco após a sua rendição em 1915. Fonte: Contestado, 1987, editora Index).
Foto 4. Cópia do plano das trincheiras da vila das Canoinhas, traçado pelo Gal. Setembrino de Carvalho. Fonte: Contestado, 1987, editora Index).

 

 

 

Diego Gudas. Doutorando do Programa de Doutorado em Desenvolvimento Regional (UnC Canoinhas/SC). Bolsista do Programa Uniedu.

 

Artigo publicado originariamente no jornal Correio do Norte.

Equipe A Gazeta Tresbarrense
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