InícioCegueira e SolidariedadeEutrofização de corpos hídricos: o que precisamos saber?

Eutrofização de corpos hídricos: o que precisamos saber?

Últimas notícias

Pé-de-Meia: estudantes nascidos em março e abril recebem hoje R$ 200

Estudantes do ensino médio da rede pública nascidos março...

Homem com mandado de prisão ativo é capturado no centro de Canoinhas

Na terça-feira, 26, policiais militares receberam informações de um...

Mulher é conduzida a delegacia por utilizar “Gato” em rede de energia

Na terça-feira, 26, por volta das 10h40, policiais militares...

Um dos impactos ambientais nos corpos hídricos é a “eutrofização”. A palavra “eutrofização” é de origem grega: EU, “bem” e TROPHOS, “nutrir”, ou seja: “bem nutrido”. Devido ao aporte de nutrientes, principalmente nitrogênio e fósforo, o ambiente aquático torna-se local bem nutrido e ideal para o desenvolvimento de plantas e microalgas, sendo que este processo ocorre de maneira acelerada. Às vezes, de um dia para o outro, algumas partes superficiais dos rios ou lagos ficam totalmente verdes. Este fenômeno tem ocorrido regionalmente com maior frequência, intensidade e amplitude geográfica. Mas, afinal: por que esse fenômeno é associado a impactos ambientais negativos? Isso ocorre por ser um indicativo ou a consequência, desencadeada geralmente por despejos inadequados de poluentes nos corpos hídricos. Embora a decomposição de qualquer ser vivo possa liberar nitrogênio e fósforo (por exemplo, a decomposição de folhas, galhos e troncos), esses processos de eutrofização são majoritariamente originados pelo carreamento, para os corpos hídricos, de efluentes de origem fecal.

 

 

Nas lavouras, normalmente, aplicam-se fertilizantes, os quais são ricos em nitrogênio e fósforo e essenciais para o desenvolvimento das culturas agrícolas. No entanto, com a ocorrência de chuvas intensas, parcela desses fertilizantes (adubo) pode ser levada ou carreada para os corpos de água, contribuindo ou potencializando a ocorrência da eutrofização. Com esse aporte de nutrientes, ocorre a reprodução acelerada de microalgas, algas ou macrófitas que se alojam na camada superficial ou lâmina d’água do ambiente hídrico, impedindo a penetração da luz solar nas camadas inferiores na coluna d’água. Essa proliferação de microalgas, por exemplo, aumenta a quantidade de oxigênio dissolvido na água (porque elas são as maiores produtoras de oxigênio do mundo). Mas, então: por que é comum falar que a eutrofização deixa a água sem oxigênio? Ocorre que o oxigênio produzido pelas algas é rapidamente consumido por um grupo de bactérias, e elas são as responsáveis por deixarem a água sem oxigênio suficiente para os peixes.

 

 

 

Então, o processo de eutrofização é uma reação em cadeia, isto é, gera a morte de peixes, e até mesmo das algas e microalgas quando estas chegam ao final do seu ciclo de vida. A decomposição dos peixes e das algas, além de outras etapas do processo de eutrofização, pode formar compostos tóxicos, desprendimento de odores desagradáveis e também proliferação de moscas, mosquitos e outros insetos. Essas condições podem afetar a qualidade da água, e inviabilizar alguns dos usos, dentre eles o consumo para animais e humanos. Se isso ocorrer, é necessário tratamento diferenciado antes da utilização, além de maior frequência de lavagem dos filtros das estações de tratamento de água.

 

 

 

 

 

 

No entanto, esses processos de eutrofização têm um aspecto positivo. Os mesmos princípios dos processos de eutrofização podem ser empregados justamente para remover poluentes de águas residuais em ambientes controlados. Considerando que macrófitas e algas têm esse potencial para utilizar o excesso de nutrientes para seu crescimento, cientistas ou especialistas da área ambiental têm colocado essas plantas em lagoas de tratamento de efluentes. Após o tratamento, o efluente segue o processo de tratamento e para os diferentes usos, e as plantas podem ser removidas e utilizadas como fertilizante natural. Esses sistemas são monitorados para que não ocorram as reações em cadeia semelhantes às que ocorrem em corpos hídricos eutrofizados.

 

 

 

Na natureza, os processos de eutrofização podem ocorrer naturalmente, mas isso levaria muitos anos, ao contrário do que normalmente observamos em nossos rios e lagos. A velocidade com que a eutrofização se instala é um dos reflexos ou consequências dos desequilíbrios das relações do ser humano com o ambiente. Portanto, algumas ações podem e devem ser aplicadas para minimizar a ocorrência desse fenômeno. O tratamento do efluente, seja industrial ou doméstico, e a utilização racional e adequada de fertilizantes nas lavouras, são ações importantes, senão necessárias para evitar a entrada de nutrientes em excesso nos corpos hídricos. A adoção de práticas conservacionistas, como por exemplo o cultivo em curva de nível, manutenção de cobertura vegetal temporária nas lavouras, dentre outras, diminui o escoamento superficial e, consequentemente, a entrada de nutrientes de áreas agrícolas diretamente nos corpos de água. Além disso, a manutenção de matas ciliares ao longo dos rios e em torno dos lagos também é eficaz, pois a vegetação atua como uma barreira contra a entrada de materiais nocivos nos corpos hídricos.

 

 

 

 

 

Toda a atitude em prol do cuidado do ambiente, em especial das águas, também é dever ou obrigação da sociedade. Para auxiliar e direcionar a tomada de decisão neste aspecto, a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), nos quais alguns deles estão diretamente ligados aos cuidados com o ambiente aquático, como por exemplo, a produção sustentável, o saneamento básico, como forma de evitar a entrada de esgoto nos corpos hídricos. Todos esses aspectos têm como propósito melhorar a qualidade ambiental, especialmente das águas e a preservação de todas as formas de vida. Nesta direção, ações são urgentes, fundamentais, podem e devem ser realizadas por todos.

 

 

 

Patrique Savi – Engenheiro Ambiental e Sanitarista – Egresso da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: [email protected].

 

Jairo Marchesan, Aline Viancelli e William Michelon – Docentes do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental da Universidade do Contestado (UnC).

Equipe Gazeta
Equipe Gazetahttps://gazetanortesc.com.br
Somos um jornal de notícias e classificados gratuitos. Estamos há 25 anos no mercado e nosso principal diferencial é o jornal digital.