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Ervas medicinais no contexto da educação: o caso da experiência da Escola de Educação Básica Municipal Benedito Therézio de Carvalho, do Município de Canoinhas (SC)

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A sociedade humana sempre estabeleceu relações com a flora, utilizando-a como alimento e sobrevivência, para transformá-la em abrigo e em diferentes outros usos e, inclusive, na utilização de determinadas espécies para fins medicinais. Deste modo, muitos dos nossos antepassados reconheciam e sabiam da importância das ervas medicinais para o tratamento e cura de doenças. Em 1500 a.C., no Egito, encontrou-se o papiro Erbers, com 150 ervas catalogadas, comprovando que as ervas eram utilizadas, desde os tempos remotos, por muitas civilizações, para a promoção da saúde das pessoas.

 

E assim ainda o é na atualidade, mediante a utilização das ervas medicinais. Para algumas civilizações, as plantas simbolizam a única forma de tratamento para determinadas patologias. Estima-se que aproximadamente 80% da população do Planeta já tenha feito uso de algum vegetal para proporcionar o alívio dos sintomas de alguma doença (SANTOS, 2023).

 

 

Atualmente, no Brasil, resultados de estudos científicos demostram que as plantas denominadas de medicinais, para que possam ser utilizadas com fins terapêuticos, devem atender a vários critérios técnicos e qualitativos, regulamentados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e contemplados no “Memento Fitoterápico” do referido órgão regulador, como eficácia, segurança, qualidade e propriedades terapêuticas.

 

 

Um dos diferenciais da fitoterapia em relação à medicina convencional é a economia financeira, bem como, na questão da confiança em produtos naturais que as ervas consideradas medicinais oferecem aos consumidores. Além disso, do ponto de vista econômico, os produtos naturais são considerados medicamentos de venda livre, o que diminui ou não onera o custo da saúde pública.

 

 

Além da vantagem econômica, a fitoterapia encontra outro aspecto positivo: a biodiversidade brasileira, que é extremamente rica, desde a Floresta Amazônica até a flora ultramarina, passando pelos biomas da Mata Atlântica, do Cerrado, da Caatinga e dos Pampas, dentre outros, que abrigam reservas naturais do país ainda pouco exploradas.

 

 

Neste sentido, dentro da Educação Formal, esta temática está inserida na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) como “Temas Contemporâneos Transversais”. Como não pertence a nenhuma área do conhecimento específica (componente curricular), perpassa por todas as áreas.

 

 

No município de Canoinhas/SC, no ano de 2010, foram elaboradas Diretrizes Operacionais e Curriculares, com a criação do Programa Educação no Campo, tendo como público-alvo principal os estudantes atendidos pela rede municipal nas escolas rurais. O referido programa, ainda vigente, e que conta com a presença de um instrutor agrícola, contratado pela Secretaria Municipal de Educação (SME) para este fim, possibilita aos estudantes o acesso a informações referentes às atividades no campo, como o cultivo de hortaliças, pomares, ervas medicinais e condimentos, dentre outros.

 

 

Na Escola de Educação Básica Municipal Benedito Therézio de Carvalho, situada na sede do Distrito de Felipe Schmidt, interior do município de Canoinhas/SC, estão sendo desenvolvidas atividades interdisciplinares e multidisciplinares com os professores e profissionais da educação, com o objetivo de motivar e ensinar aos estudantes a importância do uso correto das ervas medicinais para a saúde das pessoas, bem como, para fortalecer o resgate do contexto histórico e da origem, as características e, principalmente, com a finalidade de usar as ervas para o bem-estar humano e animal.

 

 

O processo iniciou a partir de um levantamento realizado pelos alunos, juntamente com o apoio de seus pais, em suas propriedades e vizinhanças, acerca da quantidade e variabilidade de ervas identificáveis, com a possibilidade de coleta de mudas para replicação na escola. Em seguida, com a ajuda de professores e técnicos, os alunos elaboraram uma pesquisa no laboratório de informática sobre as ervas identificadas, para a construção de um herbário.

 

 

Este trabalho com os alunos é de suma importância, principalmente porque na Região do Planalto Norte Catarinense ainda há crenças populares acerca do Monge João Maria (figura importantíssima para os sertanejos no período da Guerra do Contestado – 1912-1916), que se destacou pelo uso das ervas medicinais em seus benzimentos, tornando-se uma referência e, por vezes, considerado um “Santo popular”. Estas práticas continuam sendo adotadas ou são reproduzidas pelas benzedeiras presentes nas comunidades interioranas. Por este motivo, são necessários estudos científicos aprofundados sobre o uso correto das ervas, para que, além de preservar a tradição dos nossos antepassados, ao mesmo tempo sejam gerados benefícios à saúde humana e animal.

 

 

Neste contexto, no ano de 2010, foi estabelecido pelo município de Canoinhas o Programa Municipal de Plantas Medicinais e Fitoterápicas, com o objetivo de “proporcionar à população o acesso a medicamentos naturais eficazes, com orientação e uso corretos” (CANOINHAS, 2010). A efetivação dessa política, no âmbito do desenvolvimento regional, significa uma opção que “prioriza as potencialidades naturais ou latentes no município, extrapolando o aspecto econômico e, quiçá, rompendo com interesses econômicos extraterritoriais” (MARTINS, 2015, p. 108).

 

 

Em que pese o município ter sido pioneiro, contudo, não houve avanços na área. Neste sentido, a mesma autora conclui que ainda “não existe um planejamento em vigor, em nenhuma esfera municipal que o coloquem em prática” (MARTINS, 2015, p. 111). Esse cenário aponta o diálogo com a comunidade escolar como uma possível estratégia para a implantação eficiente do programa municipal, visto que, a partir de projetos de extensão que combinem o referido programa ao conteúdo da base curricular, o conhecimento de plantas medicinais poderá ser replicado a alunos da rede pública e, por conseguinte, às suas famílias e comunidades.

 

 

 

Referência:

 

CANOINHAS. Lei n.º 4.565, de 7 jul. 2010. Institui o programa municipal de produção de plantas medicinais e fitoterápicos “Vitalina de Lima” e dá outras providências. 2010. Disponível em: https://www.canoinhas.sc.leg.br/processo-legislativo/normas-juridicas. Acesso em: 19 abr. 2023.

 

 

MARTINS, Cristiany. Plantas medicinais: limites e possibilidades para o desenvolvimento do município de Canoinhas (SC). 2015. Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional) – Universidade do Contestado, Canoinhas/SC, 2015.

 

 

SANTOS, Vanessa Sardinha dos. Plantas Medicinais. In: MUNDO EDUCAÇÃO. Saúde e Bem-Estar. Disponível em: https://mundoeducacao.uol.com.br/saude-bem-estar/plantas-medicinais.htm. Acesso em: 29 mar. 2023.

 

 

Josmar Kaschuk – Mestrando no Programa de Pós-Gradução em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC).

Diego Gudas – Doutorando no Programa de Pós-Gradução em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC).

Jairo Marchesan – Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC). E-mail: [email protected]

Equipe A Gazeta Tresbarrense
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