Nas últimas três décadas, principalmente, o consumo humano de materiais, produtos, serviços e energia tem gerado crescente volume dos mais diferentes tipos de resíduos. Os mesmos podem trazer consequências negativas para o meio ambiente, e, por conta disso, tornaram-se problemas emergentes que precisam ser resolvidos. O manejo, reciclagem, encaminhamentos, bem como a redução desses materiais (resíduos) precisam e devem ser considerados e resolvidos pelos diferentes setores da sociedade, especialmente pelos produtores e consumidores.
Neste sentido, constituiu-se o conceito de Economia Circular. A Economia Circular é entendida como uma alternativa diferenciada ao tradicional modelo da Economia Linear. Nesta, os recursos e os bens naturais são utilizados na cadeia produtiva e descartados ao longo do processo industrial ou no final do ciclo de vida do produto. Já a Economia Circular, trabalha com o propósito de, primeiramente, repensar a fabricação de produtos de modo a reduzir os resíduos gerados, mas, também, estudar os processos produtivos de maneira a reintruduzir os resíduos na cadeia produtiva. Esse sistema permite a agregação de valores ao resíduo. Em suma, a ideia da Economia Circular é que o resíduo seja ou possa ser transformado ou incorporado como um insumo ou matéria-prima para a produção de novos produtos. Essas medidas permitem alcançar o crescimento econômico de maneira mais sustentável, durável, consistente e com preservação ambiental.
Nas últimas duas décadas, principalmente, o conceito de Economia Circular tem sido aplicado em diferentes áreas, sempre visando a redução do desperdício e a reincorporação dos resíduos no processo produtivo. Na Alemanha, esse conceito tem sido aplicado visando o reuso e a redução do descarte de resíduos em aterros, por exemplo. Por outro lado, na China, a diminuição da geração de resíduos é feita repensando o processo produtivo. Neste contexto, algumas pesquisas em todo o mundo têm aplicado o conceito de Economia Circular pela introdução/substituição de diferentes tipos de resíduos nos produtos, sem perder a qualidade, agregando valor aos resíduos e, principalmente, para diminuir o impacto ambiental de disposição em aterros. Esse conceito é também denominado “do berço ao berço”. Isto é, amparado em processos biológicos, em que, um resíduo representa ou pode ser visto ou potencializado a um novo ciclo da nutrição. Por exemplo, no meio ambiente o resíduo da fruta consumido pelos animais decompõe-se e se converte em matéria orgânica ou fertilizante para as plantas.
Nesta perspectiva de resolução de problemas reais, pesquisadores de todo o mundo têm buscado mais do que inspiração na natureza, mas, também, têm utilizado seres (insetos) nesses processos. Um exemplo, são as larvas de uma mosca conhecida popularmente como Mosca Soldado (Hermetia illucens), ou do besouro Tenébrio (Tenébrio molitor), as quais são utilizadas em processos de compostagem de resíduos de alimentos, e, posteriormente as larvas são utilizadas como fonte de proteínas e gorduras para alimentação de aves e peixes. Nessa mesma perspectiva temos a utilização de microalgas no tratamento de efluentes, uma vez que esses dejetos são ricos em nutrientes importantes para o crescimento das algas. Durante o processo de crescimento, as algas retiram os poluentes, deixando os dejetos adequados para serem reutilizados como fertilizantes na lavoura.
Mas a Economia Circular também está presente em setores como a indústria têxtil, onde estilistas criam peças com sobras de tecidos de outras confecções, ou também para a fabricação de artesanatos. Esta tendência tem conquistado crescentemente simpatizantes em diversas regiões do mundo. Outro setor onde as pesquisas têm avançado rapidamente nos últimos anos é a construção civil. Neste setor, já é possível encontrar materiais como tijolos, telhas e blocos fabricados com a adição de algum resíduo, mas sem perder a qualidade e a praticidade de aplicação.
Portanto, a aplicação da Economia Circular é ou pode ser uma grande aliada na preservação e cuidado do meio ambiente, proporcionando o “fechamento” dos processos, ajudando a reduzir o impacto negativo e gerando novas oportunidades de negócios, prosperidade social, ao mesmo tempo em que reduz a necessidade de materiais limitados e de energia não renovável.
Denilson Lorenzatto – Mestrando no Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental da Universidade do Contestado (UnC).
Aline Viancelli; William Michelon; Fabiano A. Nienov e Jairo Marchesan – Docentes do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental da Universidade do Contestado (UnC).