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E quando morre alguém que amamos?

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A perda de um ente querido pode ser traumática, gerando um grande sofrimento psíquico pois, diante da perda, como vamos lidar com a ideia de nunca mais ver a pessoa? Conversar com ela? E abraçá-la?.

 

Quando estamos sofrendo, devido à perda de alguém, estamos vivenciando um luto. O luto é um processo complexo, caracterizado por um conjunto de efeitos que surgem depois da ruptura de um vínculo profundo de amor. Neste processo, podemos vivenciar vários efeitos conforme cita o psicólogo e professor Paulo Nascimento (CRP 15/3398):

 

Efeitos cognitivos que se caracteriza por ruminações, arrependimentos, desejo de se unir a pessoa falecida, saudade intensa, etc.

 

Efeitos afetivos é a tristeza profunda, labilidade (grande flutuação no humor, de forma oscilante e constante), embotamento afetivo (dificuldade para expressar os sentimentos e até mesmo a sensação de não estar sentindo nada, como se estivéssemos em estado de anestesia) e anedonia (perda da satisfação e interesse em realizar as atividades do dia a dia).

 

Efeitos comportamentais se caracteriza pelo choro constante ou intermitente, isolamento (vontade de ficar sozinho, não querer falar com ninguém) e;

 

Efeitos fisiológicos que se referem a ausência de apetite, ansiedade, insônia.

 

Worden (2013, p. 31), em seu livro “Aconselhamento do Luto e Terapia do Luto: Um Manual para Profissionais da Saúde Mental” cita as sensações mais relatadas pelas pessoas que buscam aconselhamento para o luto:

 

  • Vazio no estômago;
  • Aperto no peito;
  • Aperto na garganta;
  • Hipersensibilidade a ruídos;
  • Senso de despersonalização: “Eu ando pelas ruas e nada parece real, inclusive eu.”
  • Falta de ar, dificuldade em respirar;
  • Fraqueza muscular;
  • Falta de energia;
  • Secura na boca.

 

Algumas vezes, esses efeitos perduram por anos, neste caso, podemos considerar se a pessoa está apresentando um quadro clínico de Transtorno do Luto Complexo Persistente, tal como é descrito no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – V 2014, p. 833). Este transtorno se refere a um tipo de luto no qual a pessoa tem dificuldades de sair dos ciclos de efeitos já citados acima.

 

 

Como elaborar o luto?

Muitas pessoas necessitam de ajuda profissional no processo de elaboração do luto. Assim, Worden (2013, p. 131) explica que, “na terapia do luto, o objetivo é identificar e resolver os conflitos de separação que impedem a conclusão das tarefas do luto nos indivíduos, cujo luto é crônico, retardado, excessivo ou mascarado pelos sintomas físicos”.

 

 

O autor continua explanando que:

 

 

A terapia do luto é mais apropriada em situações que se encaixam em uma ou mais dessas quatro categorias: (1) A reação de luto complicado se manifesta como resposta ao luto prolongado; (2) manifesta-se como luto retardado; (3) manifesta-se como resposta de luto exagerado; (4) manifesta-se pelos sintomas mascarados, somáticos ou comportamentais (p. 131).

 

 

Dessa forma, o luto – adaptação à perda – pode ser visualizado como envolvendo as quatro tarefas básicas, descritas a seguir por Worden (2013):

– Aceitar a realidade da perda;

– Processar a dor do luto;

– Ajustar-se ao mundo sem a pessoa que faleceu;

– Encontrar conexão duradoura com a pessoa falecida em meio ao início de uma nova vida.

 

Worden (2013) explica que, no trabalho clínico, é importante identificar qual das quatro tarefas do luto o paciente está enfrentando, para isso, é necessário permitir que o paciente se utilize do tempo considerável nas primeiras sessões de psicoterapia para falar sobre o ente querido, em particular acerca das características positivas, qualidades e atividades prazerosas que o enlutado apreciava fazer com a pessoa falecida. Gradualmente, intervenções mais direcionadas também são importantes que podem ser por meio de perguntas tais como:

–  “O que você sente falta acerca dele (a)?”

– “O que você não sente falta acerca dele (a)?”

– “Como ele/ela o (a) decepcionou? ”.

 

Por fim, também é importante conduzir o paciente para discussão sobre recordações de mágoas, raiva e desapontamento a fim de elaborar situações que ficaram inacabadas. Se o paciente vem para o tratamento consciente apenas dos sentimentos negativos, o processo é revertido e memórias e afetos positivos precisam ser recuperados, mesmo que seja em número reduzido.

 

Outras técnicas e intervenções – dependendo do caso – podem ser utilizados como a técnica da cadeira vazia. Esta técnica facilita ao enlutado conversar com o ente querido, mesmo que seja por meio da imaginação. O paciente passa a falar diretamente com a pessoa falecida acerca de seus pensamentos e sentimentos, sobre a morte e sobre o relacionamento que tiveram. Esta é uma técnica muito poderosa e útil para completar questões que ficaram, para manejar culpas e arrependimentos, e assim por diante (WORDEN, 2013).

 

Segundo Polster e Polster, (1973 apud Worden 2013), falar com a pessoa falecida tem impacto maior do que falar sobre ela. Dessa forma, outra técnica que pode ser utilizada para o direcionamento deste tipo de trabalho é o uso da dramatização no psicodrama. O paciente pode desempenhar ambos os papéis – o de si mesmo e o da pessoa falecida -, falando de um lado e de outro, até que um conflito específico seja resolvido.

 

O uso de fotos da pessoa falecida pode facilitar o trabalho da elaboração do luto na psicoterapia. O paciente traz para a sessão uma foto, a qual é utilizada para estimular memórias e afetos e, eventualmente, é utilizada como foco para discussões com a pessoa falecida no tempo presente.

 

As tarefas de casa também são úteis na terapia do luto, estas podem ser escritas de modo que o paciente as elabora para a pessoa falecida e depois são trazidas para a terapia e compartilhadas com o terapeuta.

 

Existem muitas formas e recursos que podem ser utilizados na clínica para ajudar na elaboração do luto.  Se você perdeu alguém ou ainda sente que está difícil elaborar uma perda, procure ajuda. A psicoterapia te ajuda no processo de ressignificação da vida para que assim seja possível seguir adiante com mais leveza e bem-estar subjetivo.

 

 

Referências:

 

Manual diagnóstico e Estatístico dos Transtornos mentais. [Recurso Rletrônico]: DSM-5 / [American Psychiatric Association; tradução: Maria Inês Corrêa Nascimento… et al.]; revisão técnica: Aristides Volpato Cordioli …[et al.]. – 5. ed. – Dados eletrônicos. – Porto Alegre: Artmed, 2014.

 

WORDEN, J. William. Aconselhamento do Luto e Terapia do Luto: Um Manual para Profissionais da Saúde Mental. Tradução Adriana Zilberman, Leticia Bertuzzi, Susie Smidt 4 ed. – São Paulo: Roca, 2013.

 

 

 

Autora:

Príncela Santana da Cruz – Professora e Psicóloga Clínica. CRP: 08/22273 – 12/18930. E-mail: [email protected]

 

Equipe A Gazeta Tresbarrense
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