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Desindustrialização nacional: Algumas reflexões

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Quando se pensa ou se ouve falar em crescimento e desenvolvimento regional, normalmente nos vem à mente a imagem de indústrias se instalando ou operando e, consequentemente, promovendo o crescimento econômico de determinado espaço ou região com suas atividades.

 

 

O homem intervém de várias maneiras na natureza, com o objetivo de transformá-la em seu favor, e é de onde ele extrai a matéria-prima para a transformação almejada, por meio da indústria, em um processo denominado industrialização, a fim de obter produtos e bens para o seu conforto e atender as necessidades da vida.

 

 

Existe, porém, um fenômeno distinto e inverso, sobre o qual, se pretende tecer algumas considerações: a “desindustrialização”. Conceitualmente, a desindustrialização é um processo relacionado a uma mudança, principalmente econômica, causada pelo arrefecimento ou cessação da capacidade de investimentos na atividade industrial nacional, especialmente no setor ou na indústria de transformação.

 

 

As causas da desindustrialização podem ser decorrentes de uma série de variáveis e eventos, e nem todas podem ser controladas: a taxa de câmbio valorizada, que torna o produto importado mais atrativo ou interessante financeiramente que o nacional; a abertura econômica mal planejada, que pode levar a falência de muitas empresas nacionais que ainda não se encontram em condições de competir no mercado internacional; a exportação de matéria-prima e produtos naturais, que prejudica a produção manufatureira; a inflação, que encarece o preço de bens de capital necessários para equipar as indústrias; e, até mesmo a alta produtividade da indústria, que pode levar à redução no preço do produto manufaturado e, por conseguinte, reduzir a participação de determinado setor industrial na economia.

 

 

Neste último exemplo, a desindustrialização pode ser vista como algo bom, pois, a depender do momento econômico em que a região se encontra, a redução da capacidade de produção da indústria pode ser um sinal positivo, visto que, como acontece nos países mais desenvolvidos, este fenômeno pode significar a mudança desta atividade econômica para o setor de serviços, de educação, de turismo e outros, com atividades mais limpas e ambientalmente mais interessantes. Exemplificando, é muito melhor para uma região ter instalada uma universidade ao invés de uma grande indústria de transformação extrativista ou poluente.

 

 

 

Dito isto, importa esclarecer também que não há um medidor específico para a taxa de desindustrialização, mas, somente pesquisas que podem nos fornecer informações acerca da ocorrência deste processo.

 

 

 

A desindustrialização pode passar pela redução da participação da indústria de transformação em um determinado espaço econômico, e, consequentemente, significa redução no Produto Interno Bruto (PIB); no caso, o PIB industrial, o qual possui uma metodologia de levantamento de dados e é medido constantemente. A redução do PIB industrial significa redução da atividade industrial.

 

 

 

A desindustrialização no Brasil

 

Historicamente, o “período de ouro” da industrialização brasileira, que ocorreu entre os anos de 1930 e o início dos anos 1980, pode ser entendido como uma época de rápido crescimento econômico, aumento da diversificação produtiva e incorporação de setores modernos sob coordenação estatal, sendo conjugada com uma integração comercial e produtiva sob a hegemonia do Estado.

 

 

Na metade dos anos 80, contudo, começa a ser observado um movimento distinto do anterior, uma vez que prevalecem baixas ou negativas taxas de crescimento industrial, com redução da diversificação produtiva, no sentido de maior participação de bens industriais de menor valor agregado, não incorporação de setores modernos, com uma economia comandada pelo mercado, sobretudo o internacional.

 

 

Isso se deu porque, nos anos da década de 70, o setor industrial no Brasil contava com forte investimento estatal e o setor privado se beneficiava desses incentivos estatais, o que causou a hipertrofia do setor. Com o passar dos anos, o Estado foi perdendo sua capacidade de financiar a indústria e, então, houve esse declínio.

 

 

Assim, o crescimento do setor industrial no Brasil ocorreu até a primeira metade da década de 1980, em virtude do processo de internacionalização da economia, que promoveu grande expansão do parque fabril brasileiro, apoiado pelos incentivos estatais já mencionados. Após esse período, o processo de desindustrialização brasileira se acentuou ao longo dos anos.

 

 

Recentemente, a desindustrialização no Brasil foi causada por fatores como a crise da dívida externa, a desorganização fiscal, a hiperinflação, a escassez de crédito de longo prazo, a valorização da taxa de câmbio e a recessão da economia, demonstrando que o país ainda é dependente da indústria para a manutenção do crescimento econômico, visto que ainda não empreendeu de forma suficiente em outras áreas que possam substituir a indústria.

 

 

Entre as diferentes perspectivas analíticas que buscam explicar as razões da perda do dinamismo industrial da economia, estão os aspectos macroeconômicos e o manejo da política econômica, sobretudo das taxas de câmbio e de juros, mas, também, na ordem microeconômica, e, neste caso, a questão do desenvolvimento das regiões.

 

 

Por outro lado, argumentos contrários à tese de desindustrialização foram apresentados por Nassif (2006). Segundo esse autor, “Não se pode falar que o Brasil tenha passado por um processo de desindustrialização porque não se assistiu a um processo generalizado de mudança na realocação de recursos produtivos e no padrão de especialização dos setores com tecnologias intensivas em escala, para as indústrias baseadas em extrativismo de recursos naturais e em trabalho” (p. 26).

 

 

Tal consideração deve ser levada em conta quando da análise de fatores de mudança que alteram o cenário produtivo nacional, por exemplo, a mudança de empresas familiares locais para grandes grupos multinacionais e que também deve ser pensado com cuidado.

 

 

Também não se pode deixar de considerar que o processo de desindustrialização não ocorreu em todas as áreas, pois na área da tecnologia o crescimento tem sido constante.

 

 

O Brasil é um país territorialmente grande e marcado por uma formação econômica heterogênea, com desequilíbrios regionais e com uma estrutura industrial ainda bastante concentrada no centro-sul, além de grande produção de commodities.

 

 

Como saída para isso, o Estado precisa urgentemente tomar partida e retomar a sua condição de agente coordenador do desenvolvimento regional, com vistas à redução das desigualdades, mediante a articulação de medidas e políticas para o processo de constituição e manutenção de novas indústrias, ou, se for o caso, para a instituição de atividades econômicas diferentes que as substituam.

 

 

Uma exigência do momento econômico atual é atender a necessidade de renovação do modelo de gestão industrial e empresarial para um padrão mais globalizado e ambientalmente mais correto, que permita a participação das pequenas empresas nesta dinâmica.

 

 

Investir na economia dos pequenos municípios e negócios, onde todos os segmentos possam ser beneficiados, pode promover o desenvolvimento socioeconômico local e regional, mas, para isso, é necessária a efetivação de políticas públicas que permitam a ampliação da participação dos pequenos negócios na economia e nas cadeias produtivas locais.

 

 

No Brasil, o fenômeno da desindustrialização é divergente; por este motivo, debater esta questão e relacioná-la com o desenvolvimento regional é importante e está intimamente associado com o projeto de nação.

 

Referências

 

NASSIF, A. Há evidências de desindustrialização no Brasil?. Rio de Janeiro: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 2006. 36 p. (Textos para discussão, 108).

 

SAMPAIO, D. Desindustrialização e estruturas produtivas regionais no Brasil. 2015. 234 f. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Econômico) – Instituto de Economia, Universidade Estadual de Campinas, 2015.

 

 

Jair Zaleski – Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC).

Jairo Marchesan – Geógrafo, docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC).

Luciano Bendlin – Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC).

 

 

Equipe Gazeta
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