Atualmente, apresenta-se como desafio prenunciar o futuro da Região do Contestado, a qual, neste artigo, é delimitada pelos municípios que compõem a área de atuação e abrangência da Universidade do Contestado (UNC), constituída pelos campi de Canoinhas, Concórdia, Curitibanos, Mafra, Porto União e Rio Negrinho.
Esse território, considerado “Região Contestada” desde o início do século passado pelos Estados do Paraná e Santa Catarina, depois, somados a outros motivos, culminaram com a denominada Guerra do Contestado, que ocorreu entre os anos de 1912 e 1916. Nesta direção, alude em considerar o histórico processo extrativista a que essa região foi submetida, o coronelismo político e econômico praticado pelas elites regionais, além do abandono, desprezo e desconsideração política por parte do Estado com os povos que nessa região viviam e vivem.
Afinal, entende-se que este processo foi e é determinante para as atuais condições e problemas dos baixos índices de desenvolvimento socioeconômico, os quais, em alguns municípios, destoam significativamente de outras regiões do Estado de Santa Catarina.
Entende-se que mudanças no status quo regional somente serão alcançadas por meio de amplas e consistentes parcerias entre o Estado, iniciativa privada, setores ou instituições, juntamente com a efetiva participação da sociedade civil organizada.
Acrescido a isso, relações de confiança entre os envolvidos. Estas e outras relações constituem-se em possibilidades para gerar aproximações, consensos, parcerias e cooperação, na perspectiva de encontrar alternativas para a superação das atuais condições socioeconômicas regionais, que contribuam para o desenvolvimento socioeconômico e humano de forma equilibrada e sustentável para a região.
Evidentemente, isso requer dos participantes e atores sociais e políticos o conhecimento do território, a clareza acerca de objetivos definidos e consistentes, planos estratégicos, execução de projetos e ações e constante avaliação do processo.
Em relação ao desenvolvimento socioeconômico rural, este passa pela valorização dos setores produtivos regionais, entre os quais estão a silvicultura, a agricultura e a pecuária, principalmente. Tais setores são atividades produtivas primárias e fundamentais desse território, e precisam atuar de maneira a utilizarem adequadamente e sustentavelmente os bens naturais (terra – solos, águas, flora) e toda a sua biodiversidade, pois, além da dependência direta de tais elementos, estes são fundamentais nos processos produtivos e da própria vida humana e animal, e, ainda, obviamente, o trabalho ou ação humana para operar as atividades econômicas.
Significa atuar em prol e em cooperação com o meio ambiente, priorizando a utilização de tecnologias limpas, a preservação dos biomas e das bacias hidrográficas e a prática de atividades econômicas sustentáveis. Afinal, a produção atual deve ser pensada e executada de forma consciente e responsável, na perspectiva de legar bens naturais em quantidade e qualidade, para oferecer dignas condições de vida às gerações futuras.
Da mesma forma, o desenvolvimento socioeconômico urbano deverá primar por cidades sustentáveis, planejamento urbano, fomento à inovação tecnológica e à infraestrutura, apoio aos empreendedores, valorização da indústria, do comércio e da produção local e regional, a fim de gerar trabalho e renda dignos aos trabalhadores.
Pressupõe, igualmente, investimentos em logística, mobilidade com qualidade nos transportes coletivos e a revitalização constante das estradas e rodovias, com vistas à superação das dificuldades de escoamento e recebimento da produção industrial, de grãos, insumos e outros. Significa pensar programas e projetos estruturantes e eficazes para o saneamento básico, dentre eles, as redes de coleta e tratamento de esgoto, o abastecimento de água em quantidade e qualidade, a rede de galerias pluviais e de coleta e tratamento de resíduos sólidos e o intenso e contínuo processo de educação, inclusive, ambiental. Tais discussões e ações requerem urgência para a superação das condições atuais.
Estas são algumas questões básicas para a Região do Contestado. Se, efetivamente, houver vontade política por parte dos governantes, mas, também, envolvimento e participação da sociedade para o desenvolvimento pleno e sustentável da região, mister se faz relembrar que o desenvolvimento se vincula ao conhecimento, e, nesse caso, a educação é ou deveria ser prioridade. Tais pretensões precisam ser transformadas em ações eficazes e contínuas.
Afinal, a educação gera pesquisa cientifica, novos conhecimentos com inovação, eleva o nível cultural e, consequentemente, pode promover o desenvolvimento socioeconômico, o bem-estar das pessoas e o cuidado com os bens naturais, qualificando a vida das pessoas. Ou ainda: pensar e agir em prol do desenvolvimento socioeconômico regional, implica, também, em observar e considerar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Paralelamente e na mesma direção, há a necessidade de intensos e contínuos esforços e investimentos nos setores básicos de educação, saúde, meio ambiente e segurança pública, principalmente. Estas frentes precisam ser pensadas e revisitadas com ações executáveis, para recuperar, melhorar e qualificar a vida de milhares de habitantes que optaram por viver neste recanto catarinense, contudo, esta temática será tema do próximo diálogo.
Autores
Solange Sprandel da Silva – Advogada, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC). E-mail:
Jairo Marchesan – Geógrafo, docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC). E-mail: [email protected]