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COMO CONFIAR NOS BRASILEIROS?

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A pátria amada, que tem um dos mais altos níveis de desconfiança do mundo, uma vez que o “jeitinho” vem codificado no DNA dos brasileiros, precisa criar um antídoto que chacine o problema congênito e hereditário da desconfiança social, o qual deve ser aplicado nos primeiros anos de vida dos seus cidadãos. Pois, como esclarece a filósofa política Hannah Arendt: “A condição humana afirma que cada nascimento humano constitui um novo início no mundo”.

 

 

A contemporânea paisagem político-econômica brasileira transcende aos limites do cenário atual. Corromper-se faz parte da nossa cultura, é um legado transmitido pela colonização lusitana, quando o patrimonialismo representado especialmente pela obtenção dos lucros e riquezas às custas da colônia, sustentou covardemente o trono, e hoje, mantém descaradamente os mandatos e seus privilégios, nos mais diversos níveis: federais, estaduais e municipais.

 

 

Depois de muitos anos de história, em 2003, a Organização das Nações Unidas (“ONU”), promoveu a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, ratificada em 31 de outubro de 2003 por 178 Estados signatários. Foi o primeiro instrumento e um dos mais importantes e inovadores mecanismos de combate à corrupção mundial.

 

 

As premissas ditadas pela ONU podem ser identificadas na Dinamarca, um dos países mais confiáveis e com menor índice de corrupção do mundo, de acordo com o Índice de Percepção e de Corrupção, cujas técnicas, caso implantadas no Brasil, jamais conseguiriam obter o êxito almejado. As práticas anticorrupção desenvolvidas por aquele Estado, quais sejam: a) pouco espaço para indicação de cargos públicos; b) polícia confiável e preparada; c) transparência; d) baixa impunidade; e) ouvidoria forte; e, f) empenho contra a corrupção; todas indistintamente, tem intrínseco nos seus procedimentos, a confiabilidade. Lá, as pessoas deixam os filhos, em carrinhos, ao lado de fora dos restaurantes. É preciso exemplificar mais?

 

 

Neste contexto, pessoalmente, entendo que a educação convencional – representada por um maior índice de escolaridade da população – diferentemente do que acreditam a maioria dos brasileiros – não mudará o Brasil! Ao contrário, o está tornando um lugar mais astuto, com muitos tecnólogos, bacharéis, mestres e doutores ardilosos e individualistas. Os brasileiros estão adquirindo mais informações e tornando-se menos sábios. O título, qualquer que seja, traz, na maioria das vezes, embutido em suas linhas, a criatividade. Criatividade dos dedos médicos artificiais e das cirurgias desnecessárias, dos advogados especialistas em burlar, driblar a legislação, dos professores reprodutores do saber e da massa humana despolitizada. É como se uma parte da ciência profetizada fosse direcionada a lesar terceiros, a confundir o público e o privado ou ainda, ao exclusivo benefício próprio.

 

 

Assim, atualmente, em que pesem as generalizações sejam sempre rígidas, entendo que é indispensável sugerir um conhecimento eficaz, que exercite a reflexão e o pensamento crítico, necessário à formação humana, em qualquer profissão. Sugiro que o currículo escolar nas escolas públicas e privadas, antes de lecionar a língua portuguesa, a matemática, a sociologia, a filosofia e artes, independente da classe social, deva treinar especial e primordialmente as pessoas a terem condutas éticas, transparentes e dignas de credibilidade recíproca. Recomendo que o sistema de ensino, nos seus primeiros níveis, de forma lúdica, prepare a criança para agir com honestidade perante a sociedade. Que instigue o brasileiro para ser ético em todas as suas relações, sejam elas, pessoais, profissionais ou relações que se estabeleçam entre os cidadãos e o Estado.

 

 

Refiro-me à escola, porque não conseguiremos resultados positivos direcionando o “ser ético” à educação mediadora no ambiente familiar, assistindo à televisão com sinal “gato”, utilizando a internet do vizinho, mentindo que nosso filho tem menos idade para pagar meia entrada no jogo de futebol ou no cinema, incentivando os jovens obreiros aos concursos públicos para que façam parte do estamento, com todas as regalias e privilégios inerentes ao cargo, ou ainda, discriminando o colega de trabalho porque ele é negro e\ou tem descendência alemã.

 

 

Reitero que essa conscientização deve emergir de uma educação para a ética, por meio da emancipação de conhecimentos e por intermédio da valorização de docentes capacitados, nas escolas, permitindo, assim, às gerações vindouras a prática de pensamentos críticos e de condutas corretas.  A honestidade não é um conceito elástico, ou seja, não há qualquer diferença ou relativização se nos referirmos ao furto de um parafuso ou ao furto de uma mala de dinheiro. Em ambas as hipóteses, independentemente do valor do bem, o ato é ilícito, é imoral e deve ser censurável.

 

 

Neste contexto, consinto que não seja produtivo utilizarmos os modelos da Dinamarca ou Nova Zelândia, tampouco, criar leis, como a Lei Anticorrupção n. 12.846/2013, instituir programas de compliance ou aumentar a punibilidade, mas, precisamos indistintamente, antes de tudo, confiar uns nos outros. Independente da escolaridade, da classe social, da cor ou do credo, o conhecimento precisa ser adquirido de forma ética, repensando a solidariedade em face à individualidade. Desta forma, cuidando da credibilidade interna entre os brasileiros, entre as empresas sediadas no Brasil, entre as iniciativas públicas e privadas, teremos, por obviedade, confiança externa. Não vejo como subjugar ou direcionar à máquina estatal a exclusividade dos prejuízos inerentes às condutas imorais e corruptas.

 

 

Por fim, substituindo-se a reprodução rígida e hegemônica do ensino curricular tradicional aos alunos nos bancos escolares por um exercício contínuo do conhecer, tendo como premissa os princípios morais e éticos, adaptados às transformações mundanas, deixaremos de obter como resultado uma massa reprodutora de pensamentos e informações cujos objetivos particulares, na maioria das vezes, prevalecem sobre as necessidades sociais e passaremos a constituir seres humanos críticos, íntegros e capazes de promover o almejado desenvolvimento econômico e social, gerando maior e melhor qualidade de vida à sociedade local, regional e brasileira, além do famigerado orgulho em ser brasileiro!

 

 

 

Krishna Schneider Treml

Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional

Disciplina de Formação Sócio-Histórico-Cultural e Desenvolvimento Regional

Universidade do Contestado – Campus Canoinhas-SC

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Equipe A Gazeta Tresbarrense
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