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Ciências Sociais: realidades e necessidades!

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Caro(a) leitor(a)! Como tem se sentido nesses últimos meses, em plena pandemia decorrente do vírus Covid-19?

 

Todos sentimos que, repentinamente, nossa “tradicional realidade” mudou. Foram-nos impostas novas rotinas, dinâmicas virtuais, relações de produção, distribuição, consumo e protocolos na vida cotidiana. Nesta direção, novos modos de agir, de comunicação, bem como novas relações afetivas, de trabalho, estudos, dentre outros foram-nos exigidas e alteradas. Muitos dos atos que estávamos tradicionalmente habituados a fazer, já não podemos mais praticá-los, pelo menos nestes tempos estranhos, bicudos e nebulosos convivendo em plena pandemia. Sabemos da necessidade do isolamento social, contudo, muitas pessoas, infelizmente, não podem praticá-lo ou não têm a noção da importância de priorizar a preservação – acima de tudo – da vida humana, em detrimento da economia.

 

Neste cenário pandêmico é impossível não ser impactado pelas crises políticas, econômicas, sociais e, principalmente, sanitária em que estamos imersos. Faz-se imperioso refletir, principalmente, sobre como se sentem os familiares que perderam seus entes queridos devido ao Covid-19. Paralelamente, compreender e valorizar muitos dos nossos semelhantes que estão trabalhando incansavelmente e mesmo com receio, com frustrações e medo, permanecem diariamente a desempenhar as atividades necessárias ou essenciais à manutenção da vida humana.

 

As estatísticas indicam que a significativa maioria das vítimas brasileiras está localizada nas áreas periféricas, marginalizadas das grandes cidades, principalmente. Isto porque o vírus se dissemina com maior velocidade nos bairros mais pobres, atingindo aqueles que estão expostos ou vulneráveis, sobrevivendo às margens da sociedade, como: empregadas domésticas, entregadores que utilizam aplicativos, indígenas, quilombolas, refugiados, moradores de rua, trabalhadores informais, entre outros. Ainda: significativa parcela desta população reside em áreas urbanas ausentes de saneamento básico e outros direitos fundamentais. Tais índices escancaram a desigualdade econômica e social brasileira e, paralelamente, aumentam os impactos sociais, educacionais e econômicos preexistentes na situação pandêmica.

 

Atualmente, no interior destes conflitos socioambientais, políticos e econômicos, observam-se ações governamentais que desqualificam e depreciam as áreas de Ciências Sociais e Humanas. No entanto, são tais áreas do conhecimento que tradicionalmente atuam na perspectiva da compreensão social, política e econômica, bem como sugerem e enaltecem as perspectivas de vida e do comportamento da sociedade com relação aos fatos e também à conduta do Estado frente aos embates e expectativas da população humana. Tais discursos e pesquisas intrínsecas dessas áreas do conhecimento refletem as possibilidades e necessidade de desenvolvimento e a instituição da ética para uma sociedade mais inclusiva, solidária e justa. Isto porque as Ciências Sociais buscam enaltecer mecanismos para diminuir as diferenças e as desigualdades sociais, incluindo a proposta da economia solidária, que alcance principalmente os menos favorecidos ou os que foram deixados à margem da sociedade pelo modo de produção capitalista.

 

É histórico que os governos autoritários censuram as Ciências Sociais e Humanas, especificamente a Filosofia, a História, a Sociologia, a Geografia, dentre outras, atribuindo um negacionismo que, por vezes, desvaloriza e intimida docentes, censura pesquisadores, desmantela discursos na tentativa de destruir e fragilizar os debates sociais, políticos e econômicos em curso. Sobre o tema, afirma Marilena Chauí: “Se, abandonar a ingenuidade e os preconceitos do senso comum for útil; se não se deixar guiar pela submissão às ideias dominantes e aos poderes estabelecidos for útil; se, buscar compreender a significação do mundo, da cultura, da história for útil; se, conhecer o sentido das criações humanas nas artes, nas ciências e na política for útil; se, dar a cada um de nós e à nossa sociedade os meios para serem conscientes de si e de suas ações numa prática que deseja a liberdade e a felicidade para todos for útil, então podemos dizer que a Filosofia é o mais útil de todos os saberes que os seres humanos são capazes. ”Sobre a filosofia, tem-se de admitir que a mesma é a Mãe das demais Ciências.

 

Em outros termos, é uma ciência âncora e fundamental para o desenvolvimento das demais Ciências e áreas do conhecimento. Afinal, a Filosofia é uma ciência fundante e estruturante, bem como, estimula sistematicamente e profundamente a pensar e compreender o mundo e os seres humanos em sua totalidade. O Professor Sandro Luiz Bazzanella explica: “Todas as vezes que os seres humanos abdicam da capacidade de pensamento, de reflexão, da dimensão estética da existência, produzem-se situações dramáticas que agridem a vida em toda sua extensão e intensidade vital”.

 

No entanto, estão em curso contínuas e intensas tentativas de desqualificação e desprezo das Ciências Sociais, uma vez que a atenção e os recursos públicos são direcionados majoritariamente às áreas técnicas, sob o argumento de que estas, supostamente produzem resultados imediatos às demandas de produção, uso e consumo das massas. Ademais, é importante nos darmos conta que as outras ciências, historicamente, não nos levaram à formação humana integral ou ao bem-estar humano e ambiental conforme preconizado. Pelo contrário, o caos mundial atual, em muito, é o resultado da aposta em uma racionalidade técnica instrumental a serviço do modo de produção capitalista que gerou mais problemas do que soluções para a sociedade humana e ao meio ambiente. Isto porque este sistema tem produzido profissionais presos a uma visão reducionista, que não analisam, refletem e pouco se situam ou se posicionam frente aos desafios sociais.

 

Diante deste cenário, ou a sociedade humana se reconhece em seus limites e a importância de rever conceitos epistemológicos das Ciências Sociais e das práticas, ou o futuro poderá ser dramático. Portanto, refletir sobre a atual condição humana é necessário e urgente para o desenvolvimento de uma sociedade autônoma que compreenda a educação como uma atividade indispensável à formação civilizatória.

 

Ellen Fernanda SantosGraduanda em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Krishna Schneider TremlMestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade do Contestado – UnC

Jairo Marchesan Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado – UnC.

Equipe Gazeta
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