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ÁGUA: direito, mas, também, dever humano

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A água é o recurso natural essencial para a existência de todas as formas de vida na Terra. Além de ser fundamental para a vida e as atividades humanas, desempenha função crucial na manutenção da comunidade de vida e dos ecossistemas.

 

Por vezes, contudo, desconhecemos e negligenciamos a complexidade subjacente desse recurso, usando-o de modo ilimitado, sem considerar a intrincada rede e relações vinculadas aos demais bens naturais, como os solos, as florestas, as correntes de ar, dentre outros.

 

Apenas uma fração ínfima – aproximadamente 2,5% do total de água do Planeta Terra –, constitui água considerada doce, ou, nas condições de inodora, incolor e insípida, embora 71% da superfície terrestre seja coberta por água (Saravanan et al., 2021). De acordo com estatísticas da Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2023 mais de 2,2 bilhões de pessoas no Planeta ainda carecem de acesso a água potável, e outra quantidade significativa não dispõe de serviços de saneamento básico (acesso ou disponibilidade de água tratada, coleta e destino adequado do lixo e resíduos, drenagem pluvial, coleta e tratamento do esgotamento sanitário) adequados. Paralelamente, a problemática da poluição das águas superficiais e subterrâneas continua a se agravar, impondo ameaças severas aos ecossistemas aquáticos e à saúde humana (Nations, 2023).

 

Conforme estudos datados de 2007 da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), instituição vinculada à Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 1,8 bilhão de pessoas que residem em diversos países enfrentam a dura realidade da escassez cotidiana e absoluta de água, enquanto dois terços da população global convivem com níveis consideráveis de estresse hídrico. Esses números alarmantes delineiam a magnitude dos desafios que se apresentam em relação à água (Saravanan et al., 2021).

 

Os recursos hídricos estão diminuindo significativamente devido ao crescente consumo, aos desperdícios e à intensificação dos usos para diferentes fins. Além disso, as mudanças e variações climáticas, ocasionadas por conta do aquecimento global, a demanda para a geração de energia, a produção de alimentos, produtos e outros, são fatores que contribuem para a escassez e até a exaustão da água doce, emergindo a preocupante questão ambiental.

 

Testemunhamos, por meio das informações vinculadas nas mídias ou redes sociais – faladas, escritas e televisivas –, bem como, pelas constatações regionais, a acelerada degradação e poluição das águas superficiais e subterrâneas, bem como, dos oceanos, com impactos preocupantes sobre a biodiversidade e o equilíbrio ambiental de forma geral. Essa problemática envolve a complexa combinação de elementos, incluindo metais tóxicos, plásticos, produtos químicos industriais, petróleo, resíduos urbanos e industriais, agrotóxicos (pesticidas, fungicidas, fertilizantes), produtos farmacêuticos, resíduos agropecuários e efluentes urbanos, dentre outros, sendo que mais de 80% desses poluentes têm origem em fontes terrestres e alcançam os oceanos por diversos meios: pelos rios, por escoamento superficial, pela deposição atmosférica e por descargas diretas.
Os desafios relacionados à quantidade e qualidade das águas não são problemas distantes que afetam apenas outras partes do mundo. Eles têm impactos diretos sobre toda a sociedade humana e demais formas de vida, inclusive, regionais.

 

A crise da água, que é uma crise civilizacional, é universal, que não reconhece fronteiras geográficas, e, à medida que as mudanças climáticas se tornam cada vez mais imprevisíveis, ninguém está imune aos seus efeitos. Por isso, às vezes, teremos pluviosidade intensa em determinados locais (muita água), ocasionando as enchentes, ou a falta de chuvas, determinando sua escassez, com grandes e arrebatadoras estiagens. A recente série de crises hídricas em diversas regiões do mundo, sobretudo no Sul do Brasil, nos Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, incluindo eventos extremos como secas prolongadas e inundações devastadoras, é um sinal ou lembrete alarmante de quão rapidamente a água pode se tornar problema, para mais ou para menos água.

 

O Dia Mundial da Água, comemorado todos os anos no dia 22 de março, serve de alerta para a necessidade de reflexões e, principalmente, de ações necessárias e urgentes. É um dia que nos lembra da responsabilidade que temos, tanto individual quanto coletivamente, em relação a este bem natural fundamental. Cada um de nós tem a capacidade de fazer muito e a diferença, ao adotar práticas de uso racional e eficiente em nossos lares, empresas e comunidades. Podemos, também, pressionar ou exigir que os governos e empresas adotem políticas e práticas de gestão hídrica sustentável. Além disso, podemos oferecer apoio e técnicas que contribuam para a boa e adequada gestão das águas.

 

A inovação em métodos racionais de cuidado nos usos das águas, por exemplo, desempenha funções importantes na gestão da água. Tecnologias de conservação, reserva e técnicas de gestão social das águas, como sistemas de reciclagem de água, reuso, aproveitamento das águas pluviais, irrigação inteligente, dentre outras, são possíveis e podem ser adotadas em larga escala. Devido ao descarte inadequado de resíduos, que não estão em conformidade com as regulamentações ambientais, observamos o aumento significativo na quantidade de resíduos perigosos ou em potencial para a poluição das águas, tanto superficiais quanto subterrâneas.

 

Neste sentido, a água não é apenas um bem natural vital, mas, também, um direito humano fundamental, que deve ser compartilhado e cuidado por toda a sociedade humana.

 

O Dia Mundial da Água do ano de 2024 terá como tema “Aproveitando a Água para a Paz”. Entende-se, com este slogan, que a água pode ser uma ferramenta para a promoção da paz quando as comunidades e os países cooperam entre si e colocam este precioso recurso na dimensão e na prática da partilha.

 

Por outro lado, a água também pode desencadear e intensificar conflitos, quando o acesso é desigual, negado e sua utilização é partilhada de forma injusta.

 

O Dia Mundial da Água de 2024 terá como objetivo o trabalho conjunto da sociedade para equilibrar as necessidades de todos, com a dedicação para garantir que ninguém seja negligenciado no acesso à água. Afinal, é possível fazer da água um elemento catalisador, aglutinador e que possa proporcionar um mundo mais pacífico.

 

Nesta direção, fica o lembrete crucial da incontestável importância desse recurso fundamental para a sobrevivência humana e a integridade do ecossistema terrestre; no entanto, a celebração anual deste dia não pode ocorrer de forma isolada, mas, sim, coletiva e acompanhada de amplos debates, como uma das formas de potencializar a conscientização e a necessidade de ações de uma gestão adequada.

 

Se temos direito à água como condição para nossa sobrevivência, temos, obviamente, o dever e a responsabilidade política, social e, principalmente, ambiental de preservá-la e cuidá-la da melhor forma possível. Somos, portanto, TODOS chamados a cuidar mais das águas. Assim, foi dado o recado!

 

Dara Cristina Segalla – Mestranda no Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental (PMPECSA) da Universidade do Contestado (UNC). E-mail: [email protected]

Jairo Marchesan – Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional (PPGDR) e do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental (PMPECSA) da Universidade do Contestado (UNC). E-mail: [email protected]

REFERÊNCIAS

NATIONS, U. World Water Day. 2023. Disponível em: https://www.google.com/search?q=World+Water+Day.&rlz=1C1VSNC_enBR906BR906&oq=World+Water+Day.&aqs=chrome..69i57.486336j0j9&sourceid=chrome&ie=UTF-8

SARAVANAN, A.; SENTHIL KUMAR, P.; JEEVANANTHAM, S.; KARISHMA, S.; TAJSABREEN, B.; YAASHIKAA, P. R.; RESHMA, B. Effective water/wastewater treatment methodologies for toxic pollutants removal: Processes and applications towards sustainable development. Chemosphere, v. 280, p. 130595, 2021.

Equipe A Gazeta Tresbarrense
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