Dando continuidade à série de entrevistas com veteranos do 3º Batalhão de Polícia Militar (3º BPM), o terceiro entrevistado é o soldado da reserva remunerada Antônio Viliczinski. O seu ingresso na Polícia Militar ocorreu no ano de 1957. Nesse período, ainda não existia a denominação de 3ºBPM. O prédio do quartel era sede da extinta 3ª Companhia de Polícia Isolada, que se tornaria o 3ºBPM, em 29 de novembro de 1960.
Antônio nasceu em 13 de março de 1936, na localidade de São João da Barra, no interior do município de Mafra, às margens do rio São João, próximo ao limite com Três Barras. Morava com seu avô e nessa localidade estudou até o 2º ano do primário, quando a família mudou-se. Nessa época, tinha cerca de doze anos. Ao cursar o 3º ano do primário, já estava residindo em Pinhalzinho, interior de Papanduva/SC, onde morou até os dezoito anos.
A sua trajetória militar começou no Exército brasileiro. Em 1954, serviu no 2º Batalhão Ferroviário (Batalhão Mauá), quando este batalhão era sediado no município de Rio Negro/PR. Após servir o Exército, mudou-se para Fartura, no município de Canoinhas, onde foi morar com sua irmã Cecília (in memoriam) para trabalhar na lavoura. Na casa de sua irmã, conheceu Terezinha Ferreira dos Santos, que pouco tempo depois se tornaria sua esposa.
Após um breve período trabalhando na lavoura de sua irmã, empregou-se em uma esquadria no centro de Canoinhas. Nesse tempo, hospedava-se no hotel Continental, onde fazia suas refeições com dois soldados da polícia que ali conhecera. Certo dia, os policiais comentaram: “se você serviu o Exército, por que não entra na polícia, abriram três vagas.” Respondeu: “Não é muito difícil?”, ao que disseram: “não, é só fazer os exames e, se estiver tudo certo, será incluído na PM”.
Antônio procurou o quartel, mas já haviam fechado as vagas. Então, retornou para a Fartura trabalhar na lavoura com sua irmã, onde permaneceu entre os anos de 1956 e 1957. Em 4 de maio de 1957, casou-se com Terezinha. Nesse mesmo ano, o cabo Adálio Ferreira, primo de sua esposa, o avisou que estavam abertas três vagas na polícia. Adálio já era policial na 3ª Companhia Isolada. “No dia seguinte, fui até o quartel de Canoinhas e, após preencher os requisitos necessários, consegui ingressar na PM”.
Recorda-se que havia teste escrito, entrevista, exame médico e teste físico. “Um dos testes físicos era subir em uma imbuia grande que tinha no mato do quartel, o que fiz com facilidade, pois estava acostumado a serviço pesado”. Na época, não havia curso de formação. Por essa razão, ingressou na Corporação, recebeu farda e já começou a trabalhar.
Existia uma particularidade no período: os distritos possuíam destacamentos policiais. Na prática, era um policial destacado que ficava responsável pelo policiamento local. Em Canoinhas, por exemplo, havia destacamento em Felipe Schmidt e em Paula Pereira. “Em 1957, eu trabalhei destacado em Felipe Schmidt, e em 1962, em Paula Pereira. Não havia viaturas. Eu fazia a patrulha a pé”. Além dos distritos, havia destacamentos nos municípios menores, a exemplo de Valões (atual Irineópolis), Três Barras e Itaiópolis. “Eu trabalhei destacado praticamente a minha carreira toda”.
Relembrando os lugares e os anos onde trabalhou, assim foi sua trajetória: Felipe Schmidt, 1957; Valões (atual Irineópolis), 1960; Porto União, 1962; Paula Pereira, 1962; Três Barras, 1964; Campo Alegre, 1966; Mafra (no Posto Fiscal), 1967; Mafra (delegacia de polícia), 1969; Canoinhas, 1969; Itaiópolis, 1970. Neste último destacamento, serviu até ingressar na reserva remunerada em julho de 1982.
O destacamento de Itaiópolis, à época, era junto à delegacia de polícia. Eram sargentos que exerciam a função de delegados. O local também servia de cadeia pública. As rondas eram realizadas a pé. “Em certa ocasião, o destacamento recebeu um jeep que era utilizado pelo sargento comandante do destacamento”. Deste período, há uma história engraçada que ainda lhe traz risos.
O destacamento não recebia farda havia bastante tempo e a sua já estava comprometida. “Eu fui até as lojas Pernambucanas, em Mafra, e comprei um tecido de cor parecida e mandei fazer uma farda. Mas, com o tempo, a cor foi desbotando e destoou da tradicional, ficando meio roxa. Houve convocação para uma formatura na sede do batalhão. Quando me viram com aquela farda, mandaram eu sair de forma e me chamaram a atenção. Eu justifiquei que não tinha farda, mas não adiantou. Pra resumir, não me deram farda e eu continuei usando a farda roxa um tempão”, relatou rindo.
Ao longo da carreira, passou por diversas dificuldades. Por não haver viaturas, era necessário o auxílio das partes envolvidas ou mesmo de táxi para os deslocamentos “e quem pagava a conta era o causador da ocorrência”. No entanto, mesmo com as adversidades características do seu tempo, não se arrepende de ter seguido a carreira de policial militar, da qual sente muito orgulho. Após uma trajetória exemplar, foi para a reserva remunerada no comportamento excepcional.
Por capitão Diego Gudas