A Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) desenvolveu-se de forma intensa e rápida, principalmente nas últimas três décadas, impulsionando a evolução e interconexão social, estreitando e tornando mais aceleradas as relações sociais, políticas e econômicas. Nesse contexto, o meio ambiente se tornou objeto de reflexão e necessidade de tomadas de decisão, tanto dos países, ao tratarem de políticas públicas, quanto das organizações privadas, que focam seu crescimento de maneira atrelada ao desenvolvimento sustentável do Planeta.
O termo TIC refere-se desde ao computador até todas as tecnologias que a ele se relacionam, inclusive à tecnologia de armazenamento e processamento de informações e da comunicação. É uma tecnologia fundamentada nos componentes hardware e software – grandes consumidores de energia elétrica. Para construir um conceito de TIC, portanto, além de se considerar o conjunto dos dispositivos e serviços, deve ser levado em consideração os conhecimentos relacionados à infraestrutura que compõe os computadores, programas e demais componentes de sistema.
A TIC é uma das grandes responsáveis pela evolução da comunicação, porém, também, pelas contradições e pseudoconfortos para a sociedade contemporânea. Ocorre que, para trazer este conforto à sociedade, muitos aspectos importantes foram deixados em segundo plano, tais como os bens naturais (solos, águas, fauna, flora). A maneira de utilizar e fabricar os produtos de TIC de forma eficiente e eficaz e que impactam minimamente o meio ambiente, com respeito às responsabilidades sociais e ao desenvolvimento sustentável e eficaz, é parte integrante e essencial do conceito de TIC Verde.
A TIC Verde é, também, o estudo e a prática de elaboração e uso de dispositivo de computadores, servidores e subsistemas associados, tais como monitores, impressoras e dados, com mínimo ou zero impacto ao ambiente. É um conceito que inclui as dimensões de sustentabilidade ambiental e econômica, no sentido de consumo eficiente de energia, descarte sustentável de materiais não mais utilizáveis, dentre outros.
A sustentabilidade ambiental da TIC diz respeito precisamente à interação entre a tecnologia e o meio ambiente. Infelizmente, a sociedade humana mundial se preocupou tardiamente com as questões ambientais e, atualmente, ainda não se discute suficientemente sobre a relação da TIC com a degradação ou preservação efetiva do meio ambiente.
As discussões sobre sustentabilidade estão seguindo o caminho de que a responsabilidade de promover o desenvolvimento sustentável não é mais apenas dos governos, mas, também, das organizações, em especial das privadas. Neste sentido, atualmente, algumas empresas estão se (re) adequando à nova era mundial, que estabelece que o meio ambiente não é apenas um item secundário, mas, o principal, quando se trata de crescimento e evolução social.
A responsabilidade social está diretamente relacionada à TIC Verde, em razão de que suas práticas acabam por interferir na imagem da empresa perante os consumidores, pois minimiza o uso de materiais que agridem o meio ambiente, trabalhando com foco na reciclagem, na economia de consumo de água e energia, dentre outras práticas, maximizando a eficiência de seus produtos e sua produção. O tripé da sustentabilidade indica que esta só é plena com base em três pontos principais: sustentabilidade ambiental, econômica e social.
Com isso, a sustentabilidade ambiental, entendida como a preservação plena e efetiva do meio ambiente, deve ocorrer concomitantemente com o desenvolvimento econômico dos países, gerando a sustentabilidade econômica. E, em decorrência disso, gerar a sustentabilidade social, visto que tanto a primeira quanto a segunda corroboram com questões sociais, tais como a qualidade de vida da sociedade humana.
O objetivo principal da TIC Verde é reduzir a pegada de carbono e o consumo de energia dos sistemas de informação e comunicação, além de promover a reciclagem de equipamentos eletrônicos e a conscientização sobre a importância da sustentabilidade no uso da tecnologia. Deste modo, todas as Conferências Internacionais referentes à proteção do meio ambiente preocupam-se com o tipo de Planeta que será deixado para as próximas gerações, visto que qualquer ato praticado pelo homem influencia direta ou indiretamente o futuro deste.
Uma das principais vertentes da TIC Verde está relacionada à eficiência energética. As empresas estão buscando soluções para a redução do consumo de energia em data centers e infraestruturas de rede, como a virtualização de servidores, o uso de sistemas de refrigeração mais eficientes e a otimização do consumo de energia em dispositivos eletrônicos. Essas medidas não apenas reduzem os custos operacionais, mas, também, contribuem para a redução das emissões dos gases de efeito estufa.
Além disso, a TIC Verde também se preocupa com a gestão adequada de resíduos eletrônicos. Com o rápido avanço da tecnologia, milhões de dispositivos eletrônicos são descartados cotidianamente, resultando em quantidade significativa de lixo eletrônico. A TIC Verde prevê a promoção da reciclagem e o reaproveitamento desses equipamentos, evitando que substâncias tóxicas sejam liberadas no meio ambiente e reduzindo a necessidade de extrair novos recursos naturais para a produção de dispositivos.
Outro aspecto importante da TIC Verde é a promoção da conscientização e mudança de comportamentos. Assim, é fundamental educar os usuários de tecnologias sobre práticas mais sustentáveis, como o desligamento de equipamentos quando não estão sendo utilizados, a preferência por equipamentos com certificações ambientais, a redução do uso de papel, mediante a digitalização de processos, e a utilização de videoconferências, em substituição a reuniões presenciais, sempre que possível.
A adoção da TIC Verde traz inúmeros benefícios, tanto para as empresas quanto para a sociedade. Além da redução de custos e do impacto ambiental, a adoção de práticas sustentáveis no setor de TIC pode melhorar a percepção e as condições concretas das empresas perante seus clientes, e fortalecer sua responsabilidade social. Além disso, a TIC Verde impulsiona a inovação tecnológica, promovendo o desenvolvimento de soluções mais eficientes e sustentáveis. Segue, na tabela a seguir, exemplos de como a TIC Verde pode ser uma grande aliada na proteção ao meio ambiente.
Gases Prejudiciais à Atmosfera | Práticas de TIC Verde |
Dióxido de carbono (CO2) | ® Virtualização de servidores
® Gerenciamento de energia ® Uso de dispositivos de baixo consumo de energia ® Reciclagem de equipamentos eletrônicos |
Metano (CH4) | ® Gerenciamento adequado de resíduos eletrônicos
® Uso eficiente de refrigeração em data centers |
Óxido nitroso (N2O) | ® Otimização de redes e comunicações
® Uso de fontes de energia renováveis ® Adoção de práticas de computação em nuvem |
Hidrofluorocarbonetos (HFCs) | ® Uso de sistemas de refrigeração mais eficientes
® Uso de equipamentos eletrônicos sem HFCs |
Tais práticas podem ser auxiliares na redução da emissão de gases prejudiciais à atmosfera, porém, isso dependerá da efetivação e do contexto específico de cada organização. Além disso, existem muitas outras práticas de TI Verde que também contribuem para a redução do impacto ambiental.
Apesar dos avanços nesse campo, no entanto, ainda há muito a ser feito. É essencial que governos, empresas e indivíduos se comprometam com a adoção da TIC Verde e invistam em pesquisa e desenvolvimento de tecnologias mais sustentáveis. Além disso, é fundamental que existam regulamentações adequadas para incentivar e promover a TIC Verde.
Concluindo, a TIC Verde representa uma abordagem promissora para o enfrentamento dos desafios ambientais da era digital. Neste sentido, a adoção de práticas sustentáveis, a redução do consumo de energia, a promoção da reciclagem e a conscientização sobre a importância da sustentabilidade permitem que a TIC Verde seja uma aliada na construção de um futuro mais sustentável.
Referências
GREENPEACE REPORTS. Guide to Greener Electronics 2017. 17/10/2017. Disponível em: https://www.greenpeace.org/usa/reports/greener-electronics-2017/
GREENPEACE. Green Electronics: sustainable innovation and environmental impact (2021).
HENRY, B. Charles. ICT for Sustainable Development. Science and Technology, v. 2, n. 5, p. 142-145, 2012. DOI: 10.5923/j.scit.20120205.06. Disponível em: http://article.sapub.org/10.5923.j.scit.20120205.06.html
TECHOPEDIA. Green IT (Green Information Technology). 2022. Disponível em: https://www.techopedia.com
THE GREEN GRID. Disponível em: https://www.thegreengrid.org/
WANG, Haijun et al. Green innovation practices and its impacts on environmental and organizational performance. 2021. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fpsyg.2020.553625/full
AUTORES:
Patricia Minini Wechinewsky Guerber. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC) – Campus Canoinhas. Mestre em Direito Internacional e Integração da América Latina pela Universidad de La Empresa de Montevidéu, Uruguai, reconhecido no Brasil pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Professora do Curso de Direito da Universidade do Contestado (UNC).
Dr. Jairo Marchesan. Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental da Universidade do Contestado (UNC). E-mail: [email protected]