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A ORIGEM DE TRÊS BARRAS

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A concessão de uma sesmaria de terras à família Cordeiro, durante o Império, com uma área de  aproximadamente 30 mil alqueires, situada entre os rios Negro, Canoinhas e São João, correspondendo hoje, o município de Três Barras e parte do município de Papanduva, dá origem a Três Barras, como ocorreu com muitas outras cidades do Brasil.

 

 

Os beneficiários desta concessão eram os Cordeiros, que residiam em Palmeira, no Paraná. Membros desta família tentaram explorar a área, chegando à região acompanhados de seus escravos e agregados. Entretanto, atacados continuamente, pelos bugres que nela se encontravam, tiveram muitas perdas, em razão do que retornaram para Palmeira, no que foram perseguidos pelos bugres até próximo a Campo do Tenente, tendo eles corrido o risco de serem dizimados.

 

 

 

No ano de 1853 o Paraná se torna Província, e todas as terras mantidas por “posse ou sesmaria”, passam ao domínio daquela província.

 

 

 

Com a promulgação da Lei nº 601, de 18 de setembro de 1850 e o decreto nº 1.318 de 31 de janeiro de 1854, que regulamentavam a distribuição de terras, controladas pelo Império, a sesmaria foi pela primeira vez registrada por José Cordeiro dos Santos, filho do finado Lucas Cordeiro dos Santos, em 31 de maio de 1856, sob a denominação de “Posse do Canoinhas”, tendo recebido o número 400 do registro de terras da cidade de Rio Negro(PR) (ver foto anexa).

 

 

 

Entre os anos de 1889 a 1893 o Cel.João Pacheco dos Santos Lima casa seus filhos:  Benvinda,  com o Sr.Benedito Mendes Cordeiro Sobrinho, filho de José Cordeiro dos Santos – e Benvindo, com Maria do Espírito Santo Cordeiro, filha de Manoel Cordeiro dos Santos.

 

 

 

Em 25 de setembro de 1895, 39 anos depois do primeiro registro, em função de novo decreto governamental, a sesmaria é novamente registrada (ver foto anexa) por Benedito Mendes Cordeiro Sobrinho, este filho de José Cordeiro dos Santos e em nome dos seguintes herdeiros: 1)Maria Prudência de Souza, 2)Joaquim Eudorico Mendes, 3)Benvindo Pacheco dos Santos Lima, 4)Marcolina Cordeiro dos Santos, 5)Ricardo Hans, 6)Benedicto Mendes Sampaio, 7)Benedito Mendes Cordeiro Sobrinho, 8)Antônio dos Santos Carneiro, 9)Francisco Prestes de Carvalho e 10)Manoel Simões Carneiro, todos herdeiros de José e Manoel Cordeiro dos Santos, ambos já falecidos e  filhos do finado Lucas Cordeiro dos Santos.

 

 

 

Em 1904 e 1924 novos registros foram efetuados, pelos vários herdeiros das famílias Cordeiro e Pacheco, como constam do livro da Diretoria de Terras, Colonização e Agricultura do Estado de Santa Catarina.

 

 

 

Em seguida e após o término da Revolução Federalista, em 1895, o Cel.João Pacheco, estabelece um contrato com os herdeiros da família Cordeiro para medição, divisão e exploração da referida sesmaria.

 

 

 

Além de pai de Benvinda e Benvindo, João Pacheco era um fazendeiro abastado, tropeiro e político, tendo sido vereador na cidade da Lapa e deputado constituinte no Paraná, além de Coronel e comandante superior da Guarda Nacional, militando no partido Liberal. Tal carreira é natural nas lideranças da família, que se constitui numa das seis famílias dominantes na Província do Paraná (Westfallen e Pilatti, pg. 199). No episódio “Cerco da Lapa” da Revolução Federalista, o coronel forma e mantém o 13º Regimento de Cavalaria da Guarda Nacional. Mesmo vitorioso ele não é indenizado pelo governo.  Aliado a este fato, todas as suas propriedades haviam sido saqueadas e aniquiladas pelas tropas federalistas.

 

 

 

Diante da difícil situação financeira em que se encontrava o Cel. João, e o fato das famílias serem aparentadas (dois filhos do Coronel casados com herdeiros da sesmaria), tornou-se fácil o estabelecimento de um contrato para medição e exploração daquela área. Na época, o tropeirismo havia se encerrado com advento das estradas de ferro e o ciclo da erva-mate se iniciava, sendo que esta era abundante na sesmaria dos Cordeiros.

 

Foto: Coronel. João Pacheco

 

Para que o contrato seja cumprido o Cel. João Pacheco faz uma visita exploratória  à “Posse do Canoinhas” a qual ele acessa vindo da Lapa através da mata e para isto ele contou com seus ex-escravos e familiares. Decidida a exploração da sesmaria, João Pacheco contrai empréstimos e inicia a venda do seu patrimônio para investir naquela área. Estabelece uma residência provisória às margens do Rio Negro no local que recebe a denominação de “Ilha”. Sua vinda definitiva, da Lapa, com a esposa, filhos, genros e noras, se dá, posteriormente, através do Rio da Várzea, afluente do Rio Negro. Em seguida inicia a construção de sua residência definitiva na localidade que era denominada Bela Vista e que posteriormente passou a se chamar “Bugre”.

 

 

 

O Coronel João Pacheco inicia uma série de atividades, sendo a principal delas a produção de erva-mate, que é transportada através do Rio Negro com canoas escavadas em troncos – o resto de uma delas ainda subsiste no Museu de Três Barras.

 

 

 

A Família Pacheco presencia a chegada dos americanos para estabelecer a grande serraria da Lumber em 1909/1911. Com esta empresa negocia muitas terras e pinhais, sendo que a área em que se estabelece a serraria Lumber, onde hoje é a sede do campo militar, foi doação de Benvindo Pacheco para o estabelecimento daquela empresa americana.

 

 

 

Os filhos do Coronel Pacheco também iniciam uma série de atividades econômicas; Leocádio e Pedro são exportadores de erva-mate, e posteriormente com Benvindo e Luiz Pacheco de Miranda Lima (meio irmão do Coronel João), instalam casas de comércio, em Três Barras e Canoinhas. Rivadávia, outro filho do Coronel, construiria a primeira olaria da região assim como uma pequena serraria movida à água.

 

 

 

Entretanto tais atividades econômicas da família passariam a contrariar interesses econômicos de empresários de outra localidade, que antes da vinda do coronel mantinham verdadeiro monopólio sobre o comércio da erva-mate, na região de Rio Negro.

 

 

 

Na fria noite de 10 de julho de 1907, após ter despachado uma carga de erva-mate, via Rio Negro, o Coronel João Pacheco, resolve pernoitar em um dos galpões onde estocava aquele produto, próximo à casa que estava construindo em pedra, na localidade que passou a se chamar Bugre. Quando já estava deitado é assassinado por um grupo de facínoras a soldo daqueles descontentes. Por ocasião de sua morte, o Dr. João Candido Ferreira, seu sobrinho e governador do Paraná, visita a família na localidade chamada “Ilha”, preocupado que estava com o seu destino. Fica tranqüilo ao perceber que seus filhos estavam firmes e decididos em continuar o que seu pai havia começado. Os opositores esperavam que com a morte do Coronel seus filhos se retirassem da região, porém isto não aconteceu; eram jovens que sobreviveram aos combates do Cerco da Lapa e as lides do tropeirismo. A partir daí, seus filhos se “esmeram” em legalizar as terras restantes e em investir na região. A casa de pedra que havia sido começada pelo Cel. Pacheco, na localidade do Bugre, é terminada e nela residiram, por muitos anos, sua esposa e filhos.

 

 

 

As terras pertencentes ao Coronel, que haviam sido legalizadas, aproximadamente seis mil alqueires, são distribuídas entre seus filhos e sua esposa Leocádia Ferreira Maciel.

 

 

 

Entretanto a saga da família Pacheco não se encerra no Coronel. Posteriormente seus filhos Leocádio e Pedro comandam tropas civis federais na guerra do Contestado. Naquele evento por duas vezes os jagunços tentaram, em vão, atacar a fazenda do Bugre, ou seja, a Casa Branca dos Pacheco, mas foram surpreendidos quando se dirigiam ao ataque e rechaçados por Pedro Pacheco e seu grupo armado, que além de serem exímios atiradores, possuíam fuzis Manlicher.

 

 

 

Em apoio às tropas comandadas pelo Capitão Potiguara, participam os dois irmãos, juntamente com Luis Pacheco de Miranda Lima, em alguns combates, tendo somente Leocádio acompanhado a tropa que demandou ao combate de Santa Maria, onde foi morto em 04 de abril de 1915.

 

 

 

Leocádio não só era um líder combatente, mas um empresário na região, pois se notabilizou como exportador de erva-mate, possuindo inclusive dois lanchões para o transporte daquele produto, no Rio Negro, denominados Lira e Rosa, este último em homenagem a sua esposa Rosa Pacheco.

 

 

 

Pedro Pacheco, também era exportador de erva-mate como o irmão, mas se notabilizou pela busca de petróleo na região. Tal iniciativa surgiu quando se tornou amigo do geólogo da Lumber, o qual após ter sido dispensado daquela empresa lhe contou que o principal interesse da mesma não era a madeira, mas a riqueza que havia no subsolo: o petróleo. Após consultar um professor de geologia na universidade em Curitiba e orientado pelo mesmo, fortemente influenciado pela campanha de Monteiro Lobato, inicia a perfuração de poços. Em determinada altura desiste considerando que seus recursos financeiros não permitiam ir além. Pedro Pacheco era uma pessoa generosa e original, mas muito temida, tanto que são contadas muitas histórias sobre o mesmo.

 

 

 

O Coronel João Pacheco, além de seus 13 filhos legítimos, teve outras duas filhas naturais com suas ex-escravas, uma delas era Lindóia Pacheco e outra Etelvina Pacheco dos Santos Lima, criadas no seio da família, amparadas e respeitadas pelos meios irmãos e irmãs. Ambas deixaram vasta geração, mas de Etelvina que casou com Max Wolff, se destacou seu filho o Sargento Max Wolff Filho, que se tornou um dos maiores Heróis da FEB na Itália, durante a II Guerra Mundial, tendo recebido condecoração do Governo Americano e vindo a falecer em combate naquele conflito.

 

 

 

A que se destacar, ainda, que Três Barras havia sido sede de município e, até, termo judiciário, criado pelo Estado do Paraná, com intenção de garantir a possse da região em favor daquele Estado, pois à época não se havia decidido a questão de limites com Santa Catarina, fato que ocorre somente em 1917. A denominação “Três Barras” tem origem na existência de rios na região, ou seja, Iguaçu, que em guarani, quer dizer “rio grande”; Negro, que na língua dos botocudos significa “una”; e Canoinhas, que deriva de canoas (pequenas embarcações).

 

 

Pedro Pacheco                      Lutércio Pacheco

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Equipe Gazeta
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