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A importância ambiental, econômica e social das florestas plantadas

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 O plantio de árvores comerciais de rápido crescimento, notadamente as do gênero Pinus e Eucalyptus, é crescente nas últimas quatro décadas, principalmente no Brasil. São espécies que possuem elevada capacidade de fixação de carbono, ou “sequestro de carbono”, fator que proporciona a remoção deste gás da atmosfera e colabora para a redução do aquecimento global. Atualmente, é crescente o debate sobre o aquecimento global, que pode estar diretamente relacionado com as atividades antrópicas, sobretudo àquelas que liberam grandes quantidades de carbono, como as decorrentes do uso massivo dos combustíveis fósseis (petróleo, carvão mineral e gás natural). As florestas plantadas, por crescerem rapidamente, contribuem para a diminuição dos índices deste gás, que é nocivo para a atmosfera, através da sua incorporação nos tecidos vegetais (folhas, madeira, raízes), conforme descrito no inciso II, artigo 3° do Decreto N° 8.375, de 11 de dezembro de 2014, que define a Política Agrícola para as Florestas Plantadas.

 

 

Uma segunda alternativa, ligada às florestas plantadas, além da fixação do carbono atmosférico e consequente melhoria da qualidade do ar, é o incremento de renda na propriedade, pois, dedicar alguns hectares para o cultivo de florestas plantadas tende a gerar retorno financeiro ao proprietário no médio e longo prazos. Para o cultivo de florestas plantadas, podem ser utilizadas áreas mais íngremes, onde a mecanização é mais difícil, pois, mesmo assim, as árvores se desenvolvem nestes locais. Neste contexto, cada vez mais está sendo difundido no Brasil a Integração Lavoura, Pecuária e Floresta (ILPF), que é uma estratégia de produção que integra diferentes sistemas produtivos, agrícolas, pecuários e florestais dentro de uma mesma área, proporcionando benefícios mútuos para todas as atividades, otimizando o uso da terra e elevando os patamares de produtividade. Como exemplo, pode-se citar a criação de gado de corte e o cultivo de eucalipto em um mesmo hectare de terra.

 

 

Alinhado a isso, tem-se mais uma contribuição das florestas plantadas: a diminuição da pressão sobre as florestas nativas. A madeira das florestas plantadas também passou a ser amplamente utilizada pelas indústrias para a geração de energia, mediante a queima em caldeiras alimentadas por biomassa. Isso possibilitou a muitas empresas alcançarem a autossuficiência em produção de energia elétrica, dando maior estabilidade em seus processos produtivos e diminuindo a dependência de energia de fontes externas.

 

 

O eucalipto foi introduzido no Brasil com maior intensidade a partir de 1904, e o pinus, a partir de 1939, mas foi a partir do ano de 1970 que o cultivo de florestas plantadas se expandiu, quando incentivos fiscais governamentais foram liberados para o reflorestamento. O objetivo era aumentar a oferta de madeira no mercado, de forma a suprir a demanda nacional (principalmente para o uso na fabricação de postes e dormentes e de lenha na construção das estradas de ferro) e, ainda, evitar a supressão das árvores nativas, que vinham sendo derrubadas de maneira voraz e de forma até insustentável.

 

 

Mas, afinal, o que é uma floresta plantada? De acordo com o decreto N° 8.375/2014, são consideradas florestas plantadas aquelas compostas predominantemente por árvores que resultam de semeadura ou plantio, cultivadas com enfoque econômico e com fins comerciais. No último relatório anual da Indústria Brasileira de Árvores (IBÁ), que é a associação responsável pelos estudos e publicações nacionais sobre a cadeia produtiva de florestas plantadas, foram atualizados os indicadores deste setor, mostrando a sua importância para o país, principalmente na área ambiental e econômica. O relatório é do ano de 2022, mas com dados de 2021.

 

 

A área plantada chegou a 10 milhões de hectares (cerca de 1,1% do território nacional), com receita líquida de R$ 24 bilhões de reais. Este retorno financeiro está diretamente atrelado à produtividade da madeira em solo brasileiro. O Brasil é o líder no ranking mundial de produtividade florestal. O investimento massivo em melhoramento genético, capacitação profissional, tecnologia e controle de pragas e doenças possibilita que o país avance no manejo correto e sustentável das florestas plantadas. Alinhado com todos estes fatores, o Brasil ainda conta com clima adequado e solos férteis, fazendo com que as florestas plantadas se desenvolvam rapidamente, convertendo carbono e nutrientes em madeira de qualidade e em quantidade satisfatória. A produtividade média fica em torno de 38 m³/ha/ano para as florestas de eucalipto, e de 30 m³/ha/ano para as florestas de pinus. Estes valores são quase duas vezes maiores do que a produtividade média das florestas plantadas em países do Hemisfério Norte, por exemplo.

 

 

No Brasil, a produção de eucalipto é maior que a produção de pinus. 75% das florestas plantadas são compostas por eucalipto (7,5 milhões de hectares), e 20% por pinus (2,0 milhões de hectares). Ainda, 5% das florestas plantadas (500 mil hectares) são cobertas por outras espécies, como a Seringueira, a Acácia, a Araucária, a Teca e o Paricá. A madeira das florestas plantadas possui as mais diversas finalidades, como lenha para aquecimento, carvão vegetal, movelaria, dormentes para linhas férreas, postes, construção civil, produção de celulose e papel (chamados de produtos florestais madeireiros). O pinus também fornece a resina, que é extraída, beneficiada e utilizada como matéria-prima para a fabricação de diversos produtos (chamado de produto florestal não madeireiro). Cerca de 70% das áreas de florestas plantadas encontram-se nas Regiões Sul e Sudeste do Brasil. As maiores porcentagens de cada espécie estão assim distribuídas: 84% das florestas de pinus estão localizadas na Região Sul e 45% das florestas de eucalipto estão localizadas na Região Sudeste. Os Estados de Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina seguem sendo os principais produtores de florestas plantadas no país.

 

 

Ambientalmente, os ganhos obtidos com as florestas plantadas são expressivos. O setor conserva seis milhões de hectares de vegetação nativa, em forma de Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), conforme prevê o Código Florestal Brasileiro – Lei N° 12.651, de 25 de maio de 2012. As áreas de Reserva Legal auxiliam na conservação da biodiversidade, na forma de proteção da fauna silvestre e da flora nativa. Além disso, as florestas plantadas empregam mais de três milhões de trabalhadores, de forma direta e indireta, oportunizando trabalho e renda para estas pessoas, distante dos grandes centros urbanos, que passaram a fixar residência no meio rural, minimizando os efeitos do êxodo rural (migração das pessoas da zona rural para a zona urbana).

 

 

As florestas plantadas também passaram a ser utilizadas para a recuperação das Áreas de Preservação Permanente – APPs (vegetação marginal dos cursos d’água), Reservas Legais (áreas cobertas com vegetação obrigatória no interior das propriedades) e áreas degradadas, ou seja, porções de terras que tiveram as suas características naturais alteradas e/ou impactadas negativamente pelas atividades humanas, passaram a receber plantios de pinus e eucalipto para cobrir o solo, evitando, com isso, a erosão da terra. No caso das Áreas de Preservação Permanente e de Reserva Legal, podem ser utilizadas espécies exóticas, como o pinus e o eucalipto, em até 50% da área.

 

 

O eucalipto e o pinus são classificados como árvores “exóticas” ou “introduzidas” porque não tiveram a sua origem no Brasil. Elas se desenvolvem em outros locais, para além da sua ocorrência natural, devido ao transporte acidental ou intencional do homem. No caso do pinus e do eucalipto, foram trazidas ao Brasil intencionalmente, como forma de atender às demandas nacionais por madeira e evitar a derrubada massiva das florestas nativas. Morfologicamente, a madeira do eucalipto é classificada como hardwood (madeira dura), enquanto a madeira do pinus é classificada como softwood (madeira macia).

 

 

Originário da Oceania, notadamente da Austrália, o eucalipto é classificado como uma árvore folhosa, de rápido crescimento e com capacidade de adaptação aos mais diversos tipos de ambientes (clima e solo). As suas folhas são largas e compridas. A árvore pode alcançar mais de 40 metros de altura. Algumas espécies cultivadas no Brasil são: Eucalyptus grandis, Eucalyptus saligna, Eucalyptus urophylla, Eucalyptus viminalis, Eucalyptus camaldulensis, Eucalyptus dunnii e Eucalyptus urograndis. As fibras extraídas do eucalipto são classificadas como fibras curtas (0,50 – 2,00 mm de comprimento). Na indústria papeleira, a fibra do eucalipto é utilizada para a fabricação de papéis que demandam uma melhor qualidade de impressão, como o cut size (aquela folha A4 da impressora, por exemplo).

 

 

Por sua vez, o pinus é originário da América do Norte, principalmente dos Estados Unidos da América, e é classificado como uma árvore conífera, ou seja, produz cones, onde se alojam as suas sementes. As suas folhas são finas e pontiagudas, chamadas de acículas. Pode alcançar até 30 metros de altura. É uma árvore de rápido crescimento, mas inferior ao do eucalipto (enquanto o corte do eucalipto começa entre 5 – 6 anos, o do pinus começa a ser feito a partir dos 8 – 9 anos de idade). Algumas espécies cultivadas no Brasil são: Pinus taeda, Pinus elliottii, Pinus palustris, Pinus caribaea, Pinus tecunumanii, Pinus oocarpa e Pinus patula. As fibras extraídas do pinus são classificadas como fibras longas (2,00 – 5,00 mm de comprimento). Na indústria papeleira, a fibra do pinus é utilizada para a fabricação de papéis que demandam uma maior resistência mecânica (papéis para sacos de cimento, de café e de açúcar, por exemplo), justamente porque as fibras são longas e mais fortes. Do Pinus elliottii é extraída a resina, substância viscosa, inflamável e com odor forte e característico que, ao ser filtrada e destilada, transforma-se em breu e terebintina, utilizados como matérias-primas para a fabricação de cosméticos, colas, ceras, desinfetantes, detergentes, adesivos, tintas, vernizes, borrachas, pneus e até mesmo alimentos, como a goma de mascar.

 

 

Em síntese, observa-se que o cultivo de florestas plantadas é um setor potencializador de vários benefícios, notadamente econômicos, sociais e até ambientais. Neste sentido, é, portanto, primária a necessidade de aperfeiçoar constantemente os tratos silviculturais, principalmente por meio de estudos que demonstrem a melhor e mais correta metodologia de manejo para o adequado desenvolvimento das florestas (melhor espécie para determinado clima; melhor forma de espaçamento entre as árvores; melhor tipo de adubação; controle de pragas, principalmente as formigas; controle de ervas daninhas; capacitação técnica da mão de obra, etc.). Além de contribuir com a diminuição da supressão das árvores nativas, as florestas plantadas melhoram a renda e o desenvolvimento do meio rural, principalmente em pequenas e médias propriedades rurais. O preço pago pela madeira varia de região para região e depende também do uso final em que será beneficiada.

 

 

O cultivo de florestas plantadas está intimamente relacionado com três Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – ODS. Os ODSs são um conjunto de metas que foram estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para “guiar” o desenvolvimento sustentável da humanidade até o ano de 2030. O sequestro de carbono realizado pelas árvores potencializa as ações globais para conter as mudanças climáticas (ODS 13), ao passo que a utilização da madeira das florestas plantadas em detrimento à madeira das florestas nativas colabora com a produção e o consumo sustentáveis (ODSs 12 e 15).

 

 

Uma maneira de alavancar ainda mais o cultivo de florestas plantadas é mediante o estímulo à integração entre os produtores rurais e as agroindústrias locais que utilizam a madeira como matéria-prima (papeleiras, serrarias, carvoeiras, moveleiras), que pode ser concretizada através de iniciativas das próprias agroindústrias, por meio de contratos firmados diretamente com os produtores. O cultivo de florestas plantadas é, portanto, comprovadamente um bom negócio, que se traduz em rentabilidade financeira e proteção ambiental, contribuindo sobremaneira para o desenvolvimento econômico (geração de emprego e renda) e para a mitigação das mudanças climáticas (sequestro de carbono atmosférico).

 

Patrique Savi. Engenheiro Ambiental e Sanitarista. Egresso da Universidade do Contestado (UNC). E-mail: [email protected]

Equipe A Gazeta Tresbarrense
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