“A História das Coisas” (no original, The Story of Stuff), é um documentário norte-americano lançado e dirigido por Annie Leonard, em 2007. Sua abordagem principal inclui as questões relacionadas ao ciclo de vida dos produtos – coisas –, desde a extração de recursos naturais, passando pela produção, distribuição e consumo, até o descarte final.
Em linguagem acessível e com visualizações simples, com a intenção de explicar conceitos complexos sobre economia, meio ambiente e sustentabilidade, o referido vídeo explora os impactos ambientais e sociais do consumo excessivo e do sistema econômico, que é baseado na produtividade em série ou em massa de produtos ou objetos e no rápido descarte. Faz, também, uma análise acerca do ciclo linear de produção e consumo, ressaltando os problemas associados, como a exploração dos recursos naturais, a poluição, a geração de resíduos e a promoção da desigualdade social.
“A História das Coisas”, que possui versão em português, examina as consequências da exploração desenfreada dos recursos naturais, como a devastação ambiental, a degradação dos ecossistemas e a perda da biodiversidade. Aborda, ainda, a geração de resíduos e a poluição resultantes da produção e do descarte de produtos, como a contaminação do ar, da água e do solo, e a acumulação de lixo nos aterros sanitários.
A maior crítica do documentário envolve a cultura do consumismo exagerado e a pressão à qual a sociedade é imposta para a compra constante de novos produtos que, geralmente, não são necessários, ressaltando os efeitos negativos dessa mentalidade sobre o ambiente e a sociedade. Nessa abordagem, faz também uma crítica sobre a exploração dos recursos naturais em países ditos subdesenvolvidos para atender à demanda dos países industrializados, considerados “desenvolvidos”, com a argumentação de que essa exploração resulta em desigualdades sociais e econômicas, deixando muitas comunidades locais empobrecidas e enfrentando problemas ambientais graves, enquanto que as grandes corporações e países desenvolvidos se beneficiam.
O documentário incentiva os espectadores a repensarem seus padrões de consumo e a considerarem alternativas mais sustentáveis, como a redução, a reutilização, a reciclagem, a compostagem e o apoio a práticas de produção mais éticas e responsáveis. Apresenta, também, a valorização da sustentabilidade e da economia circular, promovendo a ideia de uma economia mais sustentável, baseada em princípios de reciclagem, reutilização e redução do desperdício. São destacados exemplos positivos de empresas e de comunidades que adotam práticas sustentáveis, como a utilização de materiais reciclados, a reparação de produtos e a promoção do consumo consciente.
Um dos pontos-chave do documentário é o engajamento cidadão e a participação ativa. Nessa perspectiva, o vídeo busca estimular, empoderar os espectadores, encorajando-os a se envolverem ativamente na busca por soluções sustentáveis. Ainda, enfatiza a importância da conscientização e da ação coletiva para a efetivação de mudanças políticas, exigindo maior transparência e responsabilidade das empresas e adoção de práticas de consumo mais sustentáveis.
Ocorre que Annie Leonard não se contentou em apenas alertar o público para os perigos do consumismo e exploração desenfreada dos recursos naturais, pois, deste documentário nasceu um movimento global chamado de “Projeto História das Coisas” (no original, The Story of Stuff Project). Esse projeto foi lançado em 2007, como uma extensão do documentário, e se transformou em uma organização sem fins lucrativos fundada pela própria Annie Leonard.
Hospedado no endereço https://www.storyofstuff.org/, o “Projeto História das Coisas” utiliza diferentes formas de mídia, incluindo vídeos, materiais educacionais, campanhas e ações comunitárias para transmitir informações sobre a produção, consumo e descarte de produtos, e para promover uma mudança positiva na sociedade. A organização aborda questões que abrangem a exploração de recursos naturais, a poluição, a obsolescência programada, a desigualdade social e os direitos dos trabalhadores.
O projeto oferece, também, recursos educacionais gratuitos para professores e alunos, incentivando a integração de temas como sustentabilidade, consumo responsável e justiça social nas escolas. Em seu website, o visitante é convidado a se inscrever para receber notícias e atualizações sobre novos documentários e novas campanhas. O visitante também é convidado a “agir” (Take Action), apresentando diversas ferramentas de aprendizado e divulgação dos alertas contidos nos documentários.
Além do documentário original, o projeto produziu uma série de outros vídeos, cada um focado em um tema específico, como eletrônicos, água engarrafada, cosméticos, moda e alimentos. Esses vídeos objetivam a educação e capacitação das pessoas, para que estas tomem decisões mais conscientes e sustentáveis em relação ao consumo. Aqui estão alguns deles:
- “A História da Água Engarrafada” (The Story of Bottled Water): Explora os impactos ambientais, sociais e econômicos da indústria da água engarrafada, questionando a necessidade desse tipo de consumo e promovendo alternativas mais sustentáveis, como o uso de água da torneira.
- “A História da Eletrônica” (The Story of Electronics): Foca nos impactos ambientais e sociais da indústria eletrônica, abordando temas como a obsolescência programada, a geração de resíduos eletrônicos e a necessidade de uma abordagem mais sustentável para a produção e descarte de eletrônicos.
- “A História dos Cosméticos” (The Story of Cosmetics): Explora os riscos à saúde e ao meio ambiente associados ao uso de produtos cosméticos convencionais, destacando a necessidade de uma maior regulamentação e transparência na indústria de cosméticos.
- “A História do Petróleo” (The Story of Oil): Aborda as questões relacionadas à exploração, produção e consumo de petróleo, e explora alternativas energéticas mais limpas e sustentáveis.
Esses documentários seguem a mesma abordagem didática, pedagógica e crítica de “A História das Coisas”, analisando diferentes setores da indústria e estimulando a promoção da conscientização sobre os impactos ambientais e sociais do consumismo. Todo o projeto ajuda a despertar a consciência das pessoas, fornecer informações relevantes, promover o engajamento cidadão e advogar por mudanças sistêmicas necessárias para criar um futuro mais sustentável e equitativo.
Outro documentário a ser destacado é o chamado “A História das Soluções” (The Story of Solutions). É uma continuação do documentário “A História das Coisas” (The Story of Stuff), que foi lançado no ano de 2013. Também dirigido por Annie Leonard, explora soluções inovadoras e alternativas para os desafios socioambientais apresentados no primeiro documentário.
“A História das Soluções” alerta que os problemas que estamos empenhados em resolver não são os problemas que precisam ser solucionados. As empresas estão mais empenhadas em desenvolver produtos novos, mais rápidos e mais baratos, e acabam esquecendo de buscar soluções que sejam mais seguras, saudáveis e justas. Annie alerta que estamos ficando “melhores e melhores em jogar o jogo errado”, o jogo do “mais”.
O “jogo do mais” se ganha pela quantidade, ou seja, mais coisas, mais dinheiro, mais estradas, mais shopping centers, etc. Com isso, ela alerta que no “jogo do mais” não há diferença entre mais crianças nas escolas ou mais crianças nas prisões, mais energia limpa ou mais minas de carvão, posto que há apenas o objetivo final do jogo, que é o “mais”. A solução apresentada é mudar o objetivo: ao invés de buscarmos atingir o “mais”, precisamos atingir o “melhor” – melhor educação, melhores coisas, melhor sistema de saúde, melhores objetivos.
Com exemplos inspiradores de iniciativas e soluções que estão surgindo em diferentes partes do mundo, o documentário ressalta a importância de investir em projetos que buscam não apenas o lucro, mas, também, a melhoria da qualidade de vida das pessoas e a sustentabilidade do ambiente. A abordagem principal é a necessidade de repensar nosso paradigma de sucesso e, dessa forma, adotar soluções que levem em consideração o bem-estar das pessoas e do Planeta, promovendo uma abordagem mais sustentável, justa e significativa para enfrentar os desafios do mundo atual.
Todas as ações, que nasceram inspiradas no documentário “A história das Coisas” desempenham papel crucial, ao despertar a consciência, educar e engajar as pessoas em relação aos desafios sociais e ambientais associados ao consumo desenfreado e à produção insustentável.
Essas iniciativas buscam questionar a cultura de consumismo atual, incentivando mudanças de perspectiva em relação ao que consideramos como “sucesso e progresso”. Elas nos convidam a repensar nossos padrões de consumo e a adotar soluções mais sustentáveis e justas para os problemas que enfrentamos. Ao fornecer informações claras e recursos educacionais, esses projetos capacitam os indivíduos para tomadas de decisão mais conscientes sobre o que compram e consomem, destacando os impactos sociais e ambientais da produção e descarte de bens, incentivando a busca por alternativas mais responsáveis e a promoção de uma economia circular. O projeto já começou, basta nós fazermos a nossa parte!
REFERÊNCIAS
Vídeo “A História das Coisas”, em português: https://www.youtube.com/watch?v=7qFiGMSnNjw
Website do projeto “A história das Coisas”: https://www.storyofstuff.org/
Vídeo legendado em português de “A história das Soluções”: https://www.recicloteca.org.br/noticias/historia-das-solucoes-legendado/
Patricia Minini Wechinewsky Guerber. Acadêmica de Doutorado em Desenvolvimento Regional pelo Programa de Doutorado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC), Campus Canoinhas. Mestre em Direito Internacional e Integração da América Latina pela Universidad de La Empresa de Montevidéu, Uruguai, reconhecido no Brasil pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Professora do Curso de Direito da Universidade do Contestado, Campus Mafra.
Dr. Jairo Marchesan. Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental da Universidade do Contestado (UNC). E-mail: [email protected]
