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Os doze pares de França

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Por; Évelyn Bueno. Advogada. Mestranda em Desenvolvimento Regional (UnC).

 

 

Os pares de França no movimento sertanejo do Contestado surgiram por inspiração da História de Carlos Magno, o livro mais lido nos sertões àquela época:

A história remete a existência de 12 homens que formavam a tropa de elite e de confiança do Rei Carlos Magno, os quais tinham vocação para guerra, Freire (1978) compôs poema sobre os cavaleiros do Rei:

 


“Seus Guerreiros pareciam
Em velocidade e ação
Veloz, igual pensamento
Não tinha perturbação
Chegando a hora da luta
Já estava de arma na mão”

(FREIRE, 1978)

 


Além de ter sido um dos livros mais populares no Brasil ao longo do século XIX e início do século XX, a história de Carlos Magno e os 12 pares de França também era contada pelo monge José Maria (Miguel Lucena de Boaventua), de modo que nenhum sertanejo ignorava as façanhas dos pares.

 

 

No âmbito da Guerra do Contestado foi instituído piquete de elite que foi nomeado como Doze Pares de França, no entanto, neste evento, diferente na composição da História de Carlos Magno, não era integrada por doze pessoas, mas doze duplas, sendo que os doze “pares” no Contestado era estruturado por 24 homens.

 

Os pares de França constituíram um piquete de elite, especializado no manejo de arma branca, pronto para intervir corpo-a-corpo no momento decisivo dos combates. Por algum tempo, formaram a guarda de honra da virgem e, no auge e no final do movimento, dos comandantes gerais. Eram, além disso, um núcleo selecionado da polícia interna dos redutos; a princípio, ajudavam a manter a ordem nas formas; adiante, eram a força que se encarregava sumariamente de aplicar o terror contra os vacilantes e os inimigos em geral do comandante (QUEIROZ, 1981).

 

 

Os pares de França, tinham seu próprio comandante e tamboreiro. Eram armados de garrucha e facão, que sempre constituíram, antes mesmo do movimento, as armas dos pobres (QUEIROZ, 1981).

 

Cada qual segurava, na esquerda, uma bandeira branca provida de cruz verde no centro, bandeira esta que servia nos combates além de distintivo e emblema, para ser jogada à face dos adversários e facilitar, dessa forma, a luta.

 

Os pares de França eram escolhidos entre os mais ágeis e habilidosos no manejo do facão. Eram geralmente antigos praticantes do cortejo, uma espécie de esporte ou esgrima popular em que muitos sertanejos se exercitavam em momentos de folga. O cortejo ou esgrima a facão requeria grande habilidade. Eram considerados nobres cavalheiros de São Sebastião. Levavam consigo, dentro de patuás, orações que julgavam fortíssimas para fechar o corpo. Tais orações, parece que não só defendiam das balas inimigas os guerreiros de elite, mas, ao mesmo tempo, consagravam e protegiam as suas espadas.

 

 

Mesmo após a Guerra do Contestado, a confiança nos pares de França permaneceu entre a população. Não era raro encontrar espadas de madeira entre os sertanejos. Inclusive, rastreou-se que em 1942, no âmbito do movimento do Timbó*, foi encontrada uma espada de madeira no acampamento dos sertanejos, sendo identificada como “espada de par de França”.

 

 

 

O movimento do Timbó consistiu em um movimento pós-Contestado que se desenvolveu nas margens do rio Timbó entre as localidades de Poço Preto e Santa Cruz, no antigo município de Porto União. Atualmente a localidade de Poço Preto pertence ao município de Irineópolis e Santa Cruz continua integrada ao município de Porto União.

 

 

Referências:

QUEIROZ, Maurício Vinhas de. Messianismo e Conflito Social: A Guerra Sertaneja do Contestado: 1912-1916. São Paulo: Ed. Ática, 3ª ed. 1981

Equipe Gazeta
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