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ÁGUA: algumas reflexões necessárias e urgentes!

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Nossa Carta Magna, a Constituição Cidadã, de 1988, prevê, em seu artigo n° 225, que todos temos o direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Neste sentido, entende-se, neste artigo, que a água, enquanto componente do ambiente, também necessita de proteção, aliás, preservação que se faz necessária e urgente na atualidade.

 

 

O Brasil possui aproximadamente 12% da água doce superficial disponível no Planeta. No entanto, devido à sua notável extensão territorial e as condições naturais, o país possui grande variação quanto à disponibilidade de água entre uma região e outra. Enquanto na região Sul do Brasil a pluviosidade média fica em torno dos 2.000mm anuais, na região Nordeste esse índice é de aproximadamente 700mm anuais. Outro ponto que merece destaque, referente à região Nordeste, é o paradoxo de possuir a segunda maior porcentagem da população do país e deter a menor quantidade de água disponível.

 

 

A falta de água na região do Semiárido assola a população, às vezes, implicando até na sobrevivência humana e animal. De igual modo, por vezes compromete o desenvolvimento das plantações e a criação de animais. No entanto, para driblar essa situação e melhorar a qualidade de vida do povo nordestino, diversas ações foram tomadas, dentre elas a construção de cisternas para o aproveitamento da água da chuva. Essa água é utilizada para diversos fins, desde o consumo humano, cozinhar, banhar-se e até para dessedentação dos animais. Tal iniciativa possibilitou a convivência na referida região, bem como a mitigação da privação da água, aumentando a sua resiliência e a independência hídrica.

 

 

Como consequência direta da maior disponibilidade de água, por meio da instalação das cisternas, influenciou na redução do êxodo rural. Afinal, a carência de água fazia com que as pessoas buscassem alternativas de trabalho e de sobrevivência, geralmente nas grandes cidades.

 

 

Essa tecnologia social adotada e assumida pela população do semiárido nordestino pode e deve ser replicada nas e para outras regiões do Brasil e do mundo. A ideia de armazenar a água meteórica pode, também, contribuir para diminuir a exploração das subterrâneas. Porém, a exploração de águas subterrâneas é indicada apenas quando todas as formas de disponibilidade superficiais não sejam mais possíveis de uso. Portanto, as reservas hídricas subterrâneas configuram-se como reservas estratégicas para o futuro.

 

 

Visto que as reservas de água subterrânea são tidas como estratégicas, nada melhor do que “ajudar” o ciclo natural da água acontecer. Parte da água da chuva que cai, de forma simplificada, vai infiltrar, escorrer superficialmente, evapotranspirar e cair novamente em forma de chuva. Porém, uma vez que as áreas de infiltração estão minguando, principalmente em função da impermeabilização do solo e pela redução da cobertura vegetal, a quantidade e a qualidade das nossas águas subterrâneas estão diminuindo. Como medidas de mitigação, sugere-se a manutenção da cobertura arbórea do solo e a diminuição, doravante, de qualquer tipo de impermeabilização do solo, ambos tidos como fatores auxiliares de recarga dos lençóis subterrâneos. A construção de açudes ou valas de infiltração – para reter a água da chuva e liberá-la mais vagarosamente -, além de diminuir as enxurradas e suas consequências, também auxilia na recarga dos aquíferos subterrâneos.

 

 

Vale enfatizar, ainda, que águas superficiais de maneira geral estão em situação crítica, marcada pela poluição, em grande parte difusa, causada pelo descarte de esgoto/efluentes sem prévio tratamento, bem como pela deriva e percolação agrotóxicos (herbicidas, pesticidas,…) aplicados nas lavouras de produção agrícola. Esse fato de poluição das águas superficiais “força” a extração das águas subterrâneas, procuradas por serem, “teoricamente” mais límpidas e menos poluídas. Porém, diversas pesquisas mostram o contrário, ou seja, as águas subterrâneas já se encontram poluídas, principalmente por substâncias orgânicas, oriundas de todos os tipos de efluentes, além de pesticidas e herbicidas organoclorados e organofosforados.

 

 

Outro fator de poluição das águas, tanto superficiais quanto subterrâneas é o volume de esgoto lançado nos solos e nos corpos hídricos sem tratamento prévio. Ou seja, a maior parte do esgotamento sanitário é lançada diretamente para os córregos ou rios sem qualquer tipo de tratamento. Esse esgoto bruto, carregado de nutrientes, afeta diretamente a qualidade da água receptora. A eutrofização, com consequente crescimento superficial de algas e redução da disponibilidade de oxigênio dissolvido, sacrifica a vida dos animais aquáticos. Além disso, a água captada à jusante do lançamento de águas residuárias, para abastecimento humano, geralmente necessita de tratamento mais avançado, o que aumenta o dispêndio com dosagem de produtos químicos e consumo de energia elétrica para recuperar e tratar adequadamente as referidas águas utilizadas para consumo humano e outros usos.

 

 

Portanto, em face do exposto, cumpre-nos o dever de colaborar com o cuidado das nossas águas tanto superficiais quanto subterrâneas. Adotar práticas de armazenamento em cisternas e de reuso, como as águas cinzas (provenientes da lavação de roupas e louças, além das proveniente dos banhos) se faz de extrema necessidade e urgência. Além disso, sugere-se manter a cobertura vegetal e a redução da impermeabilização do solo, pois são ótimos aliados para ajudar na infiltração da água e consequente recarga dos lençóis freáticos, permitindo que a água armazenada subterraneamente seja utilizada futuramente.

 

 

O ser humano possui o diferencial de ser racional e poder pensar. E esse diferencial deve ser utilizado a seu favor. Por isso, adotar práticas de utilização e conservação das águas, é dever e obrigação de todos. Não existe vida sem água. Portanto, precisamos nos conscientizar e agir agora. Cabe a nós agir em prol do ambiente, principalmente das águas, de acordo com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS). Deste modo, todos convocados para cuidar das águas, hoje e sempre!

 

 

 

Patrique Savi – Engenheiro Ambiental e Sanitarista – Egresso da Universidade do Contestado (UnC).

 

Dr. Jairo Marchesan – Docente do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental e dos Programas de Mestrado e Doutorado da Universidade do Contestado (UnC).

 

Drª. Maria Luiza Milani – Docente do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC)

Equipe Gazeta
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