Com a crescente preocupação da sociedade em relação às questões ambientais, muitas empresas buscam se posicionar como defensoras do meio ambiente ou da sustentabilidade. No entanto, nem sempre essa preocupação é genuína e, por este motivo, algumas empresas são acusadas da prática do Greenwashing – termo em inglês que tem como tradução literal “lavando verde”.
Esse termo refere-se a empresas que se utilizam de estratégias de marketing e comunicação para se apresentarem como defensoras do meio ambiente, da preservação ambiental ou da sustentabilidade, sem que suas ações reflitam verdadeiramente essa preocupação. Essa prática pode assumir diferentes formas, desde o uso de logotipos ecológicos em produtos que não são realmente sustentáveis, até a divulgação, aos consumidores, de informações enganosas sobre as práticas ambientais da empresa.
O Greenwashing é prejudicial para os consumidores, que são levados a acreditar que estão fazendo escolhas mais sustentáveis, quando, na verdade, estão apoiando empresas que não estão comprometidas de fato com a proteção do meio ambiente. Além disso, esta prática pode prejudicar empresas genuinamente comprometidas com a sustentabilidade, que são afetadas com a desconfiança do consumidor em relação às empresas que se posicionam como defensoras do meio ambiente.
O exercício do Greenwashing ocorre por meio de práticas desonestas e enganosas, utilizadas por empresas para obterem um lucro baseado na crescente demanda do consumidor por produtos e serviços mais sustentáveis. É algo que gera, consequentemente, uma concorrência desleal, posto que as empresas que utilizam tais práticas podem oferecer produtos e serviços aparentemente mais sustentáveis do que os oferecidos por seus concorrentes, por um preço inferior.
Outra consequência do Greenwashing é a degradação do meio ambiente, visto que as empresas que utilizam essa prática não são sustentáveis em sua operação. Isso pode incluir desde a produção de produtos com materiais pouco ou nada sustentáveis até o descarte inadequado de resíduos, passando pela utilização de práticas trabalhistas reprováveis.
Para evitar o Greenwashing, é importante que os consumidores fiquem atentos e sejam críticos em relação às informações que recebem das empresas. Eles devem buscar subsídios confiáveis sobre a sustentabilidade dos produtos e serviços que consomem. Além disso, é importante que as empresas sejam transparentes em relação às suas práticas ambientais, e que adotem práticas sustentáveis legítimas em todas as áreas de sua operação ou em toda a cadeia produtiva. Dessa forma, elas podem contribuir verdadeiramente para a proteção do meio ambiente e para um futuro melhor ou mais sustentável, sob o ponto de vista econômico, social e ambiental.
De acordo com a pesquisa acadêmica realizada, em 2018, com consumidores em um supermercado no Estado de Minas Gerais (MARTINS; GOMES; DA SILVA, 2018), foi constatado que os consumidores apresentaram alto grau de preocupação com a sustentabilidade e que são críticos em relação às práticas ambientais das empresas. A maioria dos consumidores, contudo, não possui informações e conhecimentos suficientes para avaliar a veracidade das ações sustentáveis das empresas e, por conseguinte, podem ser influenciados pelo Greenwashing.
Saber se um produto é sustentável pode ser um desafio, visto que muitas empresas utilizam estratégias de marketing enganosas ou perversas na apresentação de seus produtos, vinculando-os como mais sustentáveis do que realmente são. Neste sentido, existem algumas maneiras de se avaliar a sustentabilidade de um produto:
Certificações Ambientais: são diversas as certificações ambientais que podem ser utilizadas para atestar a sustentabilidade de um produto, como a certificação FSC (Forest Stewardship Council), que garante que a madeira utilizada no produto é proveniente de fontes de procedência correta; ou a certificação Fairtrade, que garante que o produto foi produzido de forma socialmente responsável. A busca por essas certificações pode ser feita no rótulo do produto ou no site da empresa.
Avaliação do Ciclo de Vida: outra forma de avaliar a sustentabilidade de um produto é considerar seu ciclo de vida completo, desde a extração das matérias-primas até o descarte final. Algumas empresas já realizam essa avaliação e a disponibilizam em seus sites ou nos rótulos dos produtos.
Transparência da empresa: empresas verdadeiramente comprometidas com a sustentabilidade tendem a ser mais transparentes em relação às suas práticas ambientais. As informações sobre as práticas de cada empresa podem ser pesquisadas em seu site, por exemplo, como é realizado o uso de energia renovável, a redução de emissões de gases de efeito estufa e a gestão de resíduos.
Análise crítica: por fim, é importante ser crítico em relação às informações fornecidas pelas empresas, para poder avaliar de forma cuidadosa se as ações destas condizem com seus discursos de sustentabilidade. Uma empresa que se apresenta como defensora do meio ambiente, mas que não adota práticas sustentáveis em sua operação pode estar praticando o Greenwashing.
Dessa forma, resta o alerta aos consumidores para o combate ao Greenwashing, que é uma ameaça à sustentabilidade. Isso implica, por parte das empresas, em maior transparência e comprometimento real com o meio ambiente, e na parte dos consumidores, de educação, para que possam fazer escolhas conscientes e informadas em relação à sustentabilidade.
Além disso, é fundamental que os consumidores tenham interesse e acesso a informações e conhecimentos sobre o tema, de forma que possam fazer escolhas conscientes e responsáveis em relação aos produtos que consomem. Para isso, é preciso que haja um esforço conjunto de empresas, governos, organizações não governamentais e da sociedade, no sentido de conscientizar a população sobre a importância da sustentabilidade e da responsabilidade ambiental.
Por fim, é preciso enfatizar que a sustentabilidade não é um modismo, mas, sim, uma necessidade urgente em um mundo cada vez mais impactado pelas mudanças climáticas e pela degradação ambiental. Combater o Greenwashing, portanto, é uma ação necessária e urgente para que possamos construir um futuro mais justo, equilibrado e sustentável para todos.
REFERÊNCIAS
MARTINS, R. F., GOMES, R. C., & DA SILVA, D. Greenwashing e a influência nas atitudes e comportamentos do consumidor. Revista de Administração de Empresas, v. 58, n. 4, p. 383-395, 2018. Disponível em https://www.scielo.br/j/rae/a/y2Xh9JwMvBzmpPZrFJqXJxj/?lang=pt. Acesso em: 8 maio 2023.
Informações sobre Certificações Ambientais. Disponível em: https://www.ibama.gov.br/certificacoes-ambientais
Informações sobre Análise de Ciclo de Vida. Disponível em: https://www.ciclosoft.com.br/analise-de-ciclo-de-vida-o-que-e-e-por-que-e-importante/
Patricia Minini Wechinewsky Guerber – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UNC) – Campus Canoinhas. Mestre em Direito Internacional e Integração da América Latina pela Universidad de La Empresa de Montevidéu, Uruguai, reconhecido no Brasil pela Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Professora do Curso de Direito da Universidade do Contestado (UNC).
Dr. Jairo Marchesan. Docente do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e do Programa de Mestrado Profissional em Engenharia Civil, Sanitária e Ambiental da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: [email protected]