Durante o mês de outubro de 1914, a tropa do Exército Brasileiro sediada em Canoinhas/SC compunha o que ficou chamado pelo plano do general Fernando Setembrino de Carvalho de Coluna Norte. A razão da nomenclatura se baseava na estratégia utilizada pelo general. A ideia era realizar um grande cerco e cortar as rotas de acesso aos acampamentos rebeldes. O efetivo, em linhas gerais, foi dividido em quatro grandes colunas, cada uma recebendo o nome do ponto cardeal que representava no cerco. Canoinhas, portanto, estava no vértice norte da área sitiada.
No segundo semestre do mesmo ano, a vila estava passando por uma série de ataques rebeldes. Os atacantes estavam sediados em alguns redutos e guardas avançadas, entre os quais, Paciência, Colônia Vieira, Piedade e Salseiro. Em meio a uma série de ataques, o comandante da coluna, tenente-coronel Onofre Ribeiro, deliberou junto ao general Setembrino o plano de atacar os “fanáticos” de Colônia Vieira, o que permitiria apertar o cerco estratégico e unir as tropas do norte às do leste (estas, sediadas em Rio Negro/PR). No entanto, antes da Colônia Vieira, havia a necessidade de vencer o reduto do Salseiro.
O relatório redigido pelo general Setembrino deixou informações interessantíssimas de toda a movimentação militar, desde a saída de Canoinhas até a tomada do reduto. O plano consistia em acessar Salseiro não pelo o caminho usual (entre Canoinhas e Colônia Vieira), pois se sabia que este estava fortemente vigiado e protegido. A ideia era realizar um ataque surpresa, necessitando que a tropa fosse até Três Barras, cruzasse o rio Canoinhas e apanhasse os “fanáticos” de surpresa.
No dia 25 de outubro de 1914, o tenente-coronel Onofre ordenou o deslocamento, o que deveria se dar dividindo a tropa em duas frações. No dia 26, a marcha iniciou. A primeira fração fez o percurso de Canoinhas até Três Barras a pé pela estrada de rodagem. A segunda partiu de trem da estação de Canoinhas (atual estação de Marcílio Dias) até a estação de Três Barras. Daí, pelo ramal particular da madeireira Lumber, trafegou mais 9 quilômetros sentido Sul, onde se reuniu com o remanescente do efetivo. O restante do percurso foi feito a pé até a Fazenda dos Pardos, de propriedade de Leocádio Pacheco dos Santos Lima[1].
Na fazenda, as duas frações se pernoitaram. O pernoite era uma necessidade, já que a seção de engenharia construiria uma balsa para realizar a travessia do rio Canoinhas e acessar o reduto visado. No dia 27, com a balsa já operando, passavam vinte homens de cada vez e dois a dois os animais. Após oito horas de operação, a tropa realizou a travessia do rio Canoinhas. Ao todo, 1.683 homens, entre militares e civis contratados (vaqueanos), e 292 animais. Contando com a surpresa proporcionada pela estratégia, a força conseguiu vencer Salseiro, após fraca resistência, incendiando-o na sequência. O acampamento foi estabelecido no local do arraial arrasado.
O ataque a Salseiro consistia apenas em uma etapa do plano para atingir a Colônia Vieira, por isso havia a necessidade de avançar. No dia 28, uma fração do contingente foi destacada para realizar o reconhecimento do caminho que demandava Colônia Vieira. Ao iniciar a marcha, a menos de um quilômetro do acampamento, foi travado violento combate com uma guarda de “fanáticos”. Nesse episódio, foi morta uma praça e feridos dois vaqueanos, sendo um deles Pedro Ruivo (Pedro Leão de Carvalho), que viria a se tornar célebre no decorrer do conflito. Em virtude da dificuldade de prosseguir e dos constantes ataques a que a tropa ficou sujeita, o contingente regressou à vila de Canoinhas no dia 10 de novembro.
Diego Gudas. Doutorando do Programa de Doutorado em Desenvolvimento Regional (UnC Canoinhas/SC). Bolsista do Programa Uniedu.
[1] A antiga Fazenda dos Pardos é onde, atualmente, se localiza a Floresta Nacional de Três Barras (Flona). Consoante informações obtidas junto ao Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade: “em outubro de 1944, o INP comprou da Sra. Maria do Espírito Santo Pacheco a Fazenda dos Pardos, a área hoje ocupada pela Floresta Nacional de Três Barras, e nela instalou a Estação Florestal dos Pardos. Os nomes dados tanto à fazenda quanto à estação florestal devem-se ao fato da palavra “pardo” ser usada como sinônimo de veado, animal que existia em grande quantidade na região. Logo a seguir o nome mudou para Parque Florestal Joaquim Fiúza Ramos, homenagem a um político de grande influência na época, irmão de Nereu Ramos.”