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Sobre imagens e violência, e a violência das imagens

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Quando se pensa em violência, qual é a primeira imagem que lhe surge na cabeça?

Essa é uma pergunta que desencadeia em cada mente, várias formas e cores; porém, para mim, quando se discute o campo das artes, a obra que se torna mais emblemática, é a pintura “Il visitatore del mattino” (1967), de Dino Buzzati.

Em minha breve pesquisa sobre a obra, para tentar entender mais sobre a pintura: pouco se resolveu na minha mente – não digo isso apenas pelo caráter brutal em que se encontra, no andamento dos seus oito pequenos quadros, mas sim pelo fato curioso de que pouco se sabe (ou se comenta) do autor e sua visão da tela.

 

Esse poderia ser apenas mais um texto comentando sobre como formas influenciam toda uma imagética, montagem, expressões surrealistas e todo um caráter acadêmico incansável; mas o que eu gostaria de propor é algo bem mais simples: violência.  

Posso citar um milhão de obras que contribuem de certa forma para o imaginário da violência – séries, quadrinhos, músicas, textos, livros, cinema… e a lista continua sem nunca se pôr a um verdadeiro fim.

Mesmo assim, entre todas elas, a imagem que mais exprime de forma vívida na minha lembrança é a de Buzzati. E eu bem que gostaria de conseguir articular o porquê, e lhe falar em algumas linhas os porquês e não porquês “disso ali e aquilo lá”, mas quando eu tento apontar alguns de meus pensamentos sobre a obra, tudo parece uma acusação, um julgar errado, uma denúncia pífia sem fundamento.

 

O caráter inconsciente de uma obra surrealista carrega uma única palavra que me desce em discernimento – violência.

Essa violência atingiu-me desde o primeiro momento em que pus meus olhos cansados em algum “post” de alguma rede social qualquer, que reproduzia a imagem supracitada, posso dizer que essa experiência nunca se soltou do cérebro que digita essas palavras.

 

Violência essa que representa o que nove por cento das mulheres brasileiras enfrentam alguma vez na vida (1).

“- Nove por cento?”

“- queria eu, ter ouvido errado.”

(Longa pausa.)

 

A figura de Buzzati é autoexplicativa, é necessário vê-la para imediatamente sentir-se nauseado, você observa lentamente a ferocidade do abuso em grandes pequenos detalhes. No entanto, o que mais me incomoda nisso tudo é o caráter observador que a minha interpretação carrega – em tempos diferentes o “tipo estranho” se aproxima cada vez mais e mais, deixando a deformidade dismórfica de mais um corpo caído aos chãos. Você vê o sangue sem um transgressor.

 

Seria apenas mais uma pintura surrealista, caso não aparecesse tão constantemente nos meus pensamentos, essa era a violência da qual eu citei no início de meu texto: a violência das imagens, e como ela (a violência dessa imagem) me marcou, no meu mais fundo e íntimo âmago.

 

Escrito por;

Renato Cauê Grosskopf

Estudante do 3°3 da EEB Frei Menandro Kamps

Equipe A Gazeta Tresbarrense
Equipe A Gazeta Tresbarrense
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