O homem sempre buscou, através da ciência, se conhecer, isto é, compreender a sua origem e a sua constituição, característica da própria espécie humana que, diferentemente dos outros seres vivos, propiciaram o desenvolvimento complexo de uma sociedade e a forma como se relacionam entre si, por meio do uso das suas capacidades cognitivas e habilidades sociais únicas.
Assim, o fascínio do homem em busca de si mesmo, da compreensão da sua constituição, levou vários cientistas a desenvolverem técnicas e teorias para explicar como é o ser humano: seu corpo físico, o funcionamento do organismo e também o seu funcionamento psíquico que constitui a subjetividade singular de cada ser.
Para este artigo, o objetivo está para a constituição subjetiva, o bem-estar subjetivo e a saúde mental. Tratar, especificamente, de questões relacionadas ao subjetivo, tona-se desafiador, porém, de forma geral, pode-se considerar a subjetividade como um processo tanto individual quanto social que ocorre de forma simultânea. Vários autores de obras famosas adentraram nestes estudos como Freud (1856-1939), Foucault (1926-1984), Vygotsky (1896-1934) e outros. Assim para relacionar a subjetividade, o bem-estar subjetivo e a saúde mental, será considerado neste estudo, a abordagem sociointeracionista de Vygotsky na perspectiva da constituição humana como um processo social.
Para este autor, o sujeito é constituído dentro de um contexto social e histórico, que forma uma cultura em uma sociedade. Sendo assim, a noção de contexto é fundamental para a compreensão do sujeito.
Deste modo, a constituição subjetiva do ser humano, na abordagem vigotskiana, se dá por meio da interação, onde o meio e o contato social irão exercer grande influência no desenvolvimento das pessoas. Partindo desta abordagem, é possível considerar, do mesmo modo que, neste processo social e de interação, as funções mentais a saber: memória, consciência, percepção, atenção, fala, pensamento, vontade, formação de conceitos e emoção, considerados como funções psicológicas superiores -, são estimuladas e desenvolvidas também seguindo o processo de desenvolvimento biológico humano.
Essas funções se intercambiam psiquicamente e, em meio as influências das interações e relações sociais, formam um sistema psicológico, constituindo a subjetividade. Dessa forma, para que a constituição subjetiva apresente aspectos do bem-estar subjetivo que resulta em saúde mental, é importante um ambiente saudável.
Um dos primeiros ambientes aos quais o ser humano, ao nascer, se encontra inserido é o ambiente familiar. Se este ambiente for adequado ao desenvolvimento humano, será então promotora de uma constituição subjetiva voltado para o cuidado da saúde mental: o bem-estar subjetivo. Sobre isso Féres-Carneiro (2016, p. 37) destaca:
Definiremos, portanto, interação familiar facilitadora de saúde emocional como aquela em que a comunicação entre os membros da família é congruente, clara, com direcionalidade e carga emocional adequada; as regras são explícitas, coerentes, flexíveis e democráticas; os papéis familiares são definidos, diferenciados e flexíveis; a liderança está presente, sendo diferenciada e democrática; os conflitos podem ser expressos, sem desvalorização e com busca de solução; a agressividade pode ser manifesta de forma construtiva e sem discriminação em sua direcionalidade; a afeição física está presente, sendo aceita pelos membros da família e possuindo carga emocional adequada; a interação conjugal é, ao mesmo tempo, diferenciada e individualizada, sendo capaz de gratificar a ambos os membros do casal; a individualização se faz presente, pela preservação das identidades de cada um, ao mesmo tempo em que a identidade grupal promove a integração da família permitindo assim a formação e a explicitação de sentimentos de alta auto estima em seus membros.
Diante do exposto, de acordo com Giacomoni (2004), o bem-estar subjetivo[1] que promove a saúde mental, refere-se ao que as pessoas pensam e como se sentem sobre suas vidas, sendo assim, é definido “como uma ampla categoria de fenômenos que inclui as respostas emocionais das pessoas, domínios de satisfação e os julgamentos globais de satisfação de vida” (p. 43).
Assim como um ambiente familiar saudável é facilitadora da formação e constituição saudável do ser humano, da mesma forma, a sociedade deve considerar o bem-estar da coletividade para que seja igualmente promotora da saúde mental, proporcionando à população o bem-estar subjetivo. Para isso, é importante que a Política e a Economia sejam meios de combater as mazelas sociais como: educação insuficiente, desemprego, violência e criminalidade, escassez de moradia, saúde precária, falta de saneamento, e outros que, juntos promovem a desigualdade social e não a Saúde Mental que deveria ser direito de todos.
Referências
FÉRES-CARNEIRO, Terezinha. Entrevista Familiar Estruturada – EFE: Um Método de Avaliação das Relações Familiares. São Paulo. Casa do Psicólogo, 2016
GIACOMONI, Claudia Hofheinz. Bem-estar subjetivo: em busca da qualidade de vida. Psicol. Vol. 12 no 1 Ribeirão Preto, 2004. Disponível em: < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-389X2004000100005> Acesso em: 04 mar. 2022
LIZOTE, Suzete Antonia; et al. Bem-Estar Subjetivo e Home Office em Tempos de Pandemia. XX USP International Conference in Accounting. São Paulo, 2020. Disponível em: < https://congressousp.fipecafi.org/anais/20UspInternational/ArtigosDownload/2795.pdf> Acesso em 04 mar. 2022
Autora:
Príncela Santana da Cruz – Docente do curso de Psicologia da UnC Canoinhas e Mestranda no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: [email protected]
[1] O bem-estar subjetivo teve seus estudos iniciais no campo científico na década de 1960. O conceito de bem-estar subjetivo estava relacionado aos bens e recursos materiais, ou seja, os ganhos monetários e os bens e serviços que o dinheiro poderia comprar eram prioridade para satisfação na vida. Com os avanços nos estudos, foi possível constatar que outros aspectos determinavam o bem-estar, como as relações sociais e familiares, a saúde, a satisfação no trabalho, a autonomia, e outros (GALINHA; RIBEIRO, 2005; PASCOAL; TORRES; PORTO, 2010; ROCHA SOBRINHO; PORTO, 2012; SANTOS; CEBALLOS, 2013; MOLINA et al., 2017; PÉREZ-NEBRA; QUEIROGA; OLIVEIRA, 2020 apud LIZOTO, 2020).