Onde podemos vivenciar o bem-estar subjetivo (felicidade)? Esta é uma das perguntas que muitas pessoas fazem diariamente. Conselhos para alcançar esta satisfação na vida nunca faltaram ao longo da história da humanidade. Também as religiões, os profetas e filósofos propuseram muitas pistas a serem seguidas como: renunciar aos desejos; ser caridoso; consumir mais; divertir-se; ser virtuoso; controlar as emoções; etc.
Diante de tantas afirmações, como saber o que podemos fazer para termos uma vida mais satisfatória pautada no bem-estar subjetivo? Bom, todos nós, seres humanos, possuímos um órgão que é responsável pelo controle que temos sobre o nosso corpo, bem como sobre a nossa autonomia e que, de forma excepcional, evoluiu muito até apresentar, na nossa era contemporânea, um conjunto de habilidades que, se estimulada, nos proporciona muito prazer e bem-estar. Este órgão é o cérebro!
Uma das funções do cérebro, localizada no lobo frontal, é a executiva. É por meio das funções executivas que temos a possibilidade de controlar e regular nossos pensamentos, emoções e ações. Segundo o Instituto NeuroSaber (2018), as funções executivas estão ligadas a uma série de atividades tais como:
– Atenção: que possibilita mantermos o foco em algo, selecionar dados relevantes dos irrelevantes e evitar distratores, etc;
– Percepção: importante para a organização e interpretação das impressões sensoriais para dar significado ao meio;
– Memória de trabalho: que armazena e retém temporariamente as informações enquanto uma tarefa está sendo realizada, além de dar suporte às atividades cognitivas como leitura;
– Controle: para iniciar e persistir em atividades, regulação e auto avaliação de tarefas, etc;
– Ideação: para improvisação, raciocínio indutivo e dedutivo, precisão e conclusão de tarefas, etc;
– Planificação e a antecipação: para a priorização, ordenação, hierarquização e predição de tarefas visando atingir fins, objetivos e resultados, etc;
– Flexibilização: que é importante para a autocrítica, alteração de condutas, mudança de estratégia, detecção de erros e obstáculos, busca intencional de soluções, etc;
– Metacognição: que é a habilidade de refletir sobre uma determinada tarefa (leitura, cálculo, tomada de decisão etc) como forma de auto-organização, sistematização, automonitorização, revisão e supervisão, etc;
– Decisão: para aplicação de diferentes resoluções de problemas, gestão do tempo evitando atrasos e custos desnecessários, etc;
Quantas atividades estão relacionadas às funções executivas, não é? Porém, o mais interessante é que, ao treinar as funções executivas, treinamos também as funções cognitivas que, além da atenção e memória, engloba a orientação que é dividida em três esferas, conforme explica a Plataforma Web de Neurorreabilitação – NEURON, 2021):
– Orientação pessoal: é capacidade de assimilar informações relativas à história e identidade pessoal;
– Orientação temporal: capacidade de processar informações referente ao dia, hora, mês, ano, momento adequado de agir, etc;
– Orientação espacial: corresponde a capacidade de processar informação.
Também as agnosias, que, ao fazer parte das funções cognitivas, estão relacionadas à capacidade que o cérebro tem para reconhecer informações adquiridas anteriormente, como por exemplo, reconhecer objetos, pessoas, lugares, etc., por meio dos sentidos. Segundo a Plataforma Web de Neurorreabilitação – NEURON (2021), há gnosias para cada um dos canais sensitivos e gnosias que combinam diferentes canais:
– Gnosias visuais: capacidade de reconhecer diversos elementos (objetos, rostos, lugares, cores, etc) e atribuir significado aos mesmos;
– Gnosias auditivas: capacidade de reconhecer diversos sons;
– Gnosias táteis: capacidade de reconhecer diversos objetos, texturas, temperaturas, etc;
– Gnosias olfativas: capacidade de reconhecer diversos odores;
– Gnosias gustativas: capacidade de reconhecer diversos sabores;
– E por fim o Esquema Corporal: que é a capacidade de reconhecer e representar mentalmente o corpo, de desenvolver os movimentos com cada parte do corpo, e de orientação do corpo no espaço.
O cérebro desempenha diversas funções, dessa forma, podemos nos perguntar como treinar as funções executivas, cognitivas e vivenciar o bem-estar subjetivo (felicidade e prazer) ao mesmo tempo?
Os jogos cognitivos (quebra-cabeça, jogos de tabuleiro, jogos da memória, jogos de xadrez e outros), têm por função estimular e desenvolver essas funções cerebrais e também as habilidades sociais ao ser praticada com outras pessoas, como as habilidades de interação, comunicação, civilidade, empática, sentimento positivo e liderança (MARQUES, 2021).
A comunicação, na interação social, é elemento fundamental que propicia o desenvolvimento destas habilidades, pois durante a interação e na prática de jogos cognitivos em grupo, as pessoas podem expressar seus sentimentos, emoções, fazer perguntas, pedir ajuda/explicações/orientações, fazer críticas construtivas e elogiar.
Geralmente as pessoas possuem alguma dificuldade, como por exemplo, não admitir seus erros, não saber pedir desculpas, dificuldade no desenvolvimento de relacionamentos, ser empático, entre outros. Assim, os jogos cognitivos podem estimular, de forma saudável, a interação e as habilidades para estabelecer e manter boas relações interpessoais.
No contexto familiar, separar um tempinho para a prática de jogos cognitivos, também traz benefícios, pois auxilia as crianças a terem melhor desempenho na escola ao aprenderem comportamentos específicos que, de acordo com o Instituto NeuroSaber (2021) são:
– Estabelecer objetivos;
– Planificar, gerir, predizer e antecipar tarefas, textos e trabalhos;
– Priorizar e ordenar tarefas no espaço e no tempo para concluir projetos e realizar testes;
– Organizar e hierarquizar dados, gráficos, mapas e fontes variadas de informação e de estudo;
– Separar ideias e conceitos gerais de ideias acessórias ou de detalhes e pormenores;
– Pensar, reter, manipular e resumir dados ao mesmo tempo em que leem, etc. (FONSECA, 2014 apud Instituto Neurosaber, 2018).
A estimulação e o desenvolvimento de todas estas habilidades que envolvem as funções executivas, cognitivas e habilidades sociais estão relacionadas à neuroplasticidade na aprendizagem. Isto é, corresponde a propriedade do cérebro se modelar, adaptar ou auto organizar suas conexões neurais diante de novas experiências.
Com isso, que tal então chamar os familiares e amigos para jogar e estimular o cérebro na produção de novas sinapses que desenvolvem a aprendizagem, possibilitando a construção de novos conhecimentos ao passo que vivenciamos momentos prazerosos e de bem-estar subjetivo?
REFERÊNCIAS
INSTITUTO NEUROSABER. Funções Executivas: O que são e para que servem?. Publicado em: 24 dez. 2018. Colaboração: Luciana Brites – Psicomotricista. Disponível em: < https://institutoneurosaber.com.br/funcoes-executivas-o-que-sao-e-para-que-servem/> Acesso em: 17 nov. 2021
MARQUES, José Roberto. O que são Habilidades Sociais. Instituto Brasileiro de Coaching. 26 dez. 2020. Disponível em: < https://www.ibccoaching.com.br/portal/lideranca-e-motivacao/o-que-sao-habilidades-sociais/> Acesso em: 17 nov. 2021
NEURON. Funções Cognitivas. Plataforma Web de Neurorreabilitação. NeuronUP © 2021. Disponível em: < https://neuronup.com.br/areas-de-intervencao/funcoes-cognitivas> Acesso em: 17 nov. 2021
Autoras
Tammy Harumi Kitano – Discente do curso de Psicologia da UnC Canoinhas. E-mail: [email protected]
Príncela Santana da Cruz – Docente do curso de Psicologia da UnC Canoinhas e Mestranda no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: [email protected]