Qual será o impacto contemporâneo das mídias digitais na educação das crianças e adolescentes? As escolas deveriam incluí-las na metodologia de ensino, ou investir mais nas relações humanas sem tanto uso dos aparelhos eletrônicos?
Uma reportagem intitulada Os Gurus Digitais Criam os Filhos sem Telas de Guimón (2019), traz o debate sobre a importância da emoção que desencadeia o aprendizado, bem como da interação humana para o desenvolvimento das habilidades motoras e da concentração em face das consequências do uso excessivo de mídias interativas que limitariam o desenvolvimento humano.
Levando-se em consideração esta questão, uma escola em particular, nos Estados Unidos, no Vale do Silício, onde são educados os filhos de administradores da Apple, Google e outros gigantes tecnológicos, os alunos só fazem uso de telas quando chegam ao Ensino Médio, justamente para estimular o desenvolvimento emocional saudável bem como a criatividade, embora não haja muitas certezas no quanto os aparelhos eletrônicos poderiam interferir no processo ensino-aprendizado e desenvolvimento humano, conforme explicou na referida reportagem o conselheiro da escola, Pierre Laurent (GUIMÓN, 2019).
De fato, tudo que é excesso causa prejuízos e, na contemporaneidade, com os avanços tecnológicos é comum o uso de diversos aparelhos eletrônicos no nosso dia a dia: celulares, tablets, agendas eletrônicas, computadores, laptops e por aí vai. A cada momento, novos produtos são lançados no mercado e junto a isso, as investidas do marketing, para convencer consumidores da necessidade da aquisição destes aparatos. Uma vez que o produto é adquirido, o seu uso é abusivo. Isto é, passa-se muito tempo do dia – e da noite também – em frente a essas telas, seja para uso do trabalho ou como passatempo. Independentemente do motivo, qual é de fato, o impacto hoje, destes dispositivos e seu uso excessivo para o desenvolvimento humano?
Para os pais dos alunos que não frequentam a escola do ‘Vale do Silício’, educar uma criança sem uso de telas é um desafio, pois exige presença, atenção, criatividade, tempo etc. Atualmente, nem todos conseguem conciliar todas estas habilidades, e após um dia exaustivo, é muito tentador não deixar as crianças na frente das telas.
Para não cairmos na tentação de nos utilizarmos dos aparelhos eletrônicos de forma abusiva, é preciso ampliar o olhar para as necessidades do nosso âmbito familiar e explorar como está sendo a utilização das mídias sociais pelas crianças e adolescentes, e entender como é esse uso, viabilizando orientações de como utilizar essas mídias de forma adequada.
Os aparelhos eletrônicos devem ser entregues às crianças e adolescentes para o uso disciplinado e direcionado, para que o acesso às mídias seja saudável. As relações humanas devem ser priorizadas também para que o desenvolvimento dos processos psicológicos básicos: linguagem, pensamento, memória, percepção, aprendizagem, motivação, emoção, inteligência, sensação e atenção seja promovido.
Para existir mais escolas como a do ‘Vale do Silício’ e as levar ao alcance da comunidade, é preciso a participação da sociedade como um todo para se pensar e efetivar diferentes atividades extracurriculares para além do espaço educacional a fim de estimular o desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças e adolescentes valorizando as relações humanas.
O acesso à informação tornou-se muito mais rápido com a internet, ou seja, os acontecimentos a nível global chegam até nós em tempo real, isto é maravilhoso pois nos permite ter o contato com as pessoas que geograficamente estão longe de nós, porém é necessário também valorizar as relações com as pessoas com as quais convivemos no mesmo espaço geográfico e, para isto, é preciso disponibilizar o tempo para largar o celular e demais aparelhos eletrônicos e ter uma boa conversa em família, estreitando os laços afetivos, promovendo, o desenvolvimento saudável, o bem-estar e a felicidade.
Referências
GUIMÓN, Pablo. Os Gurus Digitais Criam seus Flhos sem Telas. El País. Publicado em 12 abr. 2019. Disponível em: < https://brasil.elpais.com/brasil/2019/03/20/actualidad/1553105010_527764.html> Acesso em: 27 out. 2021
Autores:
Príncela Santana da Cruz – Docente do curso de Psicologia da UnC Canoinhas e Mestranda no Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional da Universidade do Contestado (UnC). E-mail: [email protected]
Ana Paula Farias – Discente do curso de Psicologia da UnC Canoinhas. E-mail: [email protected]
Andriele Aparecida Kohler Scheuer – – Discente do curso de Psicologia da UnC Canoinhas. E-mail: [email protected].